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Viúva de Ian Curtis revê seu lado familiar em livro

Biografia de cantor fala mais de roupa suja lavada em casa que de música

Livro sobre vocalista do Joy Division, que se matou aos 23 anos, deu origem ao filme 'Control', de 2007

CADÃO VOLPATO ESPECIAL PARA A FOLHA

Como na tradição dos dramas juvenis, Ian Curtis (1956-1980), o vocalista e letrista do Joy Division, não teve tempo de envelhecer. Ele se enforcou em casa aos 23 anos, às vésperas da turnê que levaria o grupo aos Estados Unidos, no varal que a mulher usava para secar as roupas do bebê.

Tudo o que aconteceu com ele foi rápido e intenso. Ian gostava de David Bowie, escrevia textos soltos, conheceu os parceiros de banda em Manchester, unidos a partir de um show lendário dos Sex Pistols em 1976, casou jovem, teve uma filha e uma amante e gravou dois clássicos do rock, "Unknown Pleasures" (1979) e "Closer" (1980).

A banda, quase punk, não era como as outras. Ian, um performer imprevisível, mimetizava ataques de epilepsia no palco --isso quando não os tinha de verdade. O resultado era hipnotizante.

Sua voz grave e cavernosa, de uma pessoa bem mais velha e curtida, interpretava letras poéticas e depressivas, às quais ninguém prestava muita atenção. Nem mesmo a banda, conforme está escrito nas memórias daquele tempo evocadas pela viúva, Deborah Curtis, que resolveu colocá-las no papel 15 anos depois da morte do marido.

São lembranças domésticas, mais do que musicais. Ela centraliza suas observações ternas e realistas no Ian que lutava para sustentar a família e alcançar o estrelato.

Deborah esteve ligada à produção de "Control" (2007), filme de Anton Corbijn baseado no livro, mas foi uma experiência difícil, não só porque falava da relação do cantor com a belga Annik Honoré (morta no último dia 3 de julho, aos 56 anos, e a quem ele teria dedicado o grande sucesso da banda, "Love Will Tear Us Apart").

"É um grande filme, com uma trilha sonora incrível, mas eu achei o processo todo muito difícil. Eu não imaginava o quanto seria estranho nos ver na pele dos atores", respondeu Deborah em entrevista à Folha, por e-mail.

Todas as letras de Ian estão impressas no livro, mas o fã do Joy Division irá encarar uma história que fala muito mais de roupa suja lavada em casa do que de música.

Pois o livro é bom mesmo assim, mais interessante e menos indulgente, por exemplo, do que a barroca autobiografia de Morrissey, o cantor de outra banda de Manchester, The Smiths.

Ian Curtis e o Joy Division foram descobertos e redescobertos pelo grande público ao longo dos anos, e isso dura até hoje. "Ian ainda é um ídolo porque representa a vulnerabilidade e a paixão que estão associadas à juventude", diz Deborah.

No próximo 15 de julho, data da sua morte, muita gente ainda estará ouvindo Ian Curtis e o Joy Division. Menos Deborah Curtis.

"Eu não preciso ouvir. Tem dias em que escuto o Joy Division na minha cabeça."


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