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Território ateu

Em sua última entrevista, o jornalista inglês Christopher Hitchens (1949-2011) defende ideias antirreligiosas à revista na qual se destacou nos anos 70

John dempsie/Rex Features
O jornalista Christopher Hitchens em frente ao escritório da revista The New Statesman, em 1978
O jornalista Christopher Hitchens em frente ao escritório da revista The New Statesman, em 1978

de são paulo

Em sua edição deste mês, a revista britânica "New Statesman" traz a última entrevista do jornalista, escritor e crítico literário inglês Christopher Hitchens, morto no último dia 15 em decorrência de um câncer no esôfago.

O entrevistador é o biólogo evolucionista Richard Dawkins, também inglês e intelectual afinado com as ideias ateístas de Hitchens. Os dois eram amigos havia 30 anos.

Conhecido por sua memória capaz de lembrar trechos de livros que teria lido há mais de 20 anos, mesmo após muitas doses de álcool, era um polemista incendiário.

Vivendo nos Estados Unidos desde 1981, atacava a religião, o racismo e a crença em verdades absolutas.

Sua grande admiração por autores como Vladimir Nabokov e George Orwell era diretamente proporcional a sua aversão por figuras como Bill Clinton, Henry Kissinger e Madre Teresa de Calcutá.

Além da erudição, foi um jornalista de campo. Viajou ao Iraque, Afeganistão e Coreia do Norte. Conhecia todos os países europeus e boa parte do norte da África.

De trajetória política orientada à esquerda, surpreendeu seguidores ao apoiar a invasão americana no Iraque após o atentado de 11 de Setembro.

Depois, em um artigo muito polêmico, se submeteu às técnicas de interrogatório do Exército americano antes de escrever que as classificava como "sessões de tortura".

Fundada em 1913, a "New Stateman" é uma revista de política e cultura. Hitchens se destacou nela como repórter e articulista nos anos 70.

Desde 2009, a publicação reserva algumas edições aos cuidados de editores convidados. Escolhido para dezembro, Dawkins usou como temas o humanismo e o ateísmo. A seguir, trechos da entrevista com Hitchens.

Richard Dawkins - Tem recordações da "New Statesman"?
Christopher Hitchens - Parece um mundo diferente, uma revista diferente e que aconteceu com uma pessoa diferente. Eu adoraria que eles me entrevistassem sobre isso algum dia, mas prefiro que você e eu foquemos sobre a questão principal da edição, que, obviamente, é nossa causa comum.

Venho lendo seus ensaios recentes. Sua erudição me espanta. Não consigo pensar em ninguém desde Aldous Huxley que tenha uma base de leitura tão completa e ampla.
Pode parecer que é ampla, mas isso talvez tenha se dado ao custo de ser um pouco superficial. Me tornei jornalista porque um jornalista não precisava se especializar.
Fui a um debate entre Umberto Eco e Susan Sontag, e falou-se sobre a palavra "polímata". Eco disse que era sua ambição ser polímata; Sontag o contestou, dizendo que a definição de polímata é alguém que se interessa por tudo e por nada mais.
Em minha formação, fui incentivado a ler como uma borboleta, pousando sobre um tema e tomando um golinho de néctar, mas sem mergulhar mais fundo.

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