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Opinião Mário Gruber (1927-2011)

Nem sempre compreendido, artista foi fiel a suas ideias

Gruber pode ser considerado um precursor do realismo fantástico

JOSÉ ROBERTO TEIXEIRA LEITE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Autodidata em pintura, o santista Mário Gruber, que morreu no último dia 28, aos 84 anos, tinha 20 anos quando tomou parte, em São Paulo, no imediato pós-Guerra, na hoje histórica exposição do Grupo dos 19.

Nela se revelou toda uma constelação de jovens pintores e desenhistas que nos próximos anos desempenhariam destacado papel nos cenários artísticos paulista, brasileiro e inclusive internacional.

Dava assim início a uma carreira que, em mais de 60 anos, iria enriquecer nosso acervo cultural com uma obra vasta e original, tecnicamente apurada e de alta qualidade artística, tanto na pintura quanto na gravura e no muralismo. Isso sem mencionar a constante atividade docente, mestre e incentivador da gravura que foi.

Autor de dezenas de individuais dentro e fora do país, possuidor de obras em museus nacionais e estrangeiros, ele acumulou longas temporadas de aperfeiçoamento e trabalho em Paris, Nova York e Olinda.

Mas foi em Santiago, em 1957, durante um Congresso Continental de Cultura, que se deu o encontro que lhe nortearia os passos até os últimos dias: a aproximação de Diego Rivera, Gabriela Mistral e Pablo Neruda.

O consequente intercâmbio de ideias e de experiências com o que havia de melhor nas artes, nas letras e no pensamento latino-americanos confirmou suas posições estéticas e políticas.

Gruber foi um artista imperturbavelmente figurativo, mesmo quando se tornaram moda quase obrigatória os abstracionismos, concretismos e demais tendências que nas últimas décadas se manifestaram na arte brasileira.

Pagou por isso alto preço a uma crítica que nem sempre o compreendeu e muitas vezes fez questão de ignorá-lo.

Mas permaneceu fiel a seu mundo de ideias. Criou um universo pictórico pessoal, que povoou de mascarados, crianças, fantasiados, carnavalescos e figuras bizarras, sempre partindo de imagens do cotidiano, mas observadas em meio a uma atmosfera mágica.

Pode inclusive ser considerado um dos precursores do realismo fantástico latino-americano -ainda que esse reconhecimento nem sempre lhe seja dado.

Agora que Gruber não está mais conosco, talvez seja tempo de observarmos com mais atenção e agudeza sua produção, a singularidade de sua arte, as muitas e estranhas belezas que deixou.

JOSÉ ROBERTO TEIXEIRA LEITE é historiador da arte.

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