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Mônica Bergamo

O guru pop

O brasileiro Sri Prem Baba, mestre de uma linhagem indiana, faz sucesso entre artistas ao pregar a "religião do amor" e o poder do silêncio

Se a ideia que você tem de um mestre espiritual é a de alguém que vive em um lugar afastado, frequenta apenas eventos religiosos ou não chega nem perto de uma televisão, esqueça.

Janderson Fernandes de Oliveira, ou Sri Prem Baba, 49, como foi rebatizado desde sua escolha como sucessor de uma linhagem de mestres na Índia, assiste ao noticiário, mora no bairro da Aclimação, em SP, e foi convidado de honra na casa de artistas como Bruna Lombardi e Marcio Garcia.

"Saio pouco de casa quando estou em São Paulo. Sou quieto, mas de vez em quando vou ao Guarujá para dar um mergulho", diz o guru à repórter Marcela Paes durante entrevista na Escola do Coração -um dos centros espalhados por países como Estados Unidos, Holanda, Argentina e Índia em que o paulistano reúne seus seguidores e dissemina seu método de conhecimento espiritual.

Quando circula, Prem Baba costuma atrair muitos devotos, curiosos e simpatizantes. No evento Love & Peace Rocks, em Fortaleza, em 2013, Juliana Paes, Gloria Maria e Astrid Fontenelle assistiram, com outras 1.500 pessoas, a uma palestra dele.

Marcio Garcia chegou a organizar um jantar para o mestre, com outros globais, em sua casa no Rio. "Chamei amigos que sei que simpatizam com ele. Não adiantava chamar a turma que gosta de rave", diz o ator e diretor. Giovana Antonelli, Ana Maria Braga, Cristiane Torloni e Isis Valverde estavam presentes.

"Foi maravilhoso. A meditação coletiva é ótima. A 'vibe' (vibração) tomou conta da casa e teve gente que eu nem vi chegar, porque estava totalmente focado", diz o anfitrião.

A "bad vibe" (vibração ruim) veio depois: sites de notícias publicaram que o evento teria envolvido rituais de autoflagelação. "Botei advogado no meio. Vieram dizer que abri minha 'mansão' para cerimônia com chicote. Mentir sobre qualquer coisa já seria ridículo, mas diante de uma missão em que estamos transmitindo coisas tão boas, achei ainda pior."

De fala mansa, didática e pontuada por gargalhadas, Prem Baba diz que começou a sua busca cedo. Aos 14 anos, criado pela avó "em uma família simples", começou a fazer artes marciais. Seguindo a orientação de um professor, passou a meditar e a fazer ioga. Teve uma reação inesperada ao escutar pela primeira vez um canto devocional. "Uma voz dentro de mim disse: quando fizer 33 anos vá para Rishikesh, na Índia."

"Não entendi nada. Era uma criança com pouca cultura global. Só tinha ouvido falar de Índia quando contavam como Pedro Álvares Cabral tinha chegado ao Brasil."

Psicologia, budismo, ocultismo, tantrismo, elementoterapia e hinduísmo entraram na lista de estudos de Janderson, até que, durante a lua de mel na Índia, aos 33, chegou onde queria. "Fiz uma rota turística. Nada me satisfazia. Até que cheguei em Rishikesh. Quando bati na porta do ashram (centro de meditação), vi o mesmo velho que falou comigo aos 14 anos. Meu coração se abriu."

A realização da visão da infância colocou fim no casamento com Mara -os dois têm uma filha, Nuyth Ananda, 11. "A relação ainda durou um pouco, mas naquele momento meu coração ficou com meu mestre espiritual."

Para seguir os ensinamentos de Prem Baba, não é necessário ter uma religião específica. Ele mesmo tampouco se define como seguidor de qualquer tipo de dogma. "Minha religião é o amor. Minha missão é despertar a divindade em cada um. Entender Deus é amor", explica.

O discurso "libertário e tolerante" foi o que atraiu Bruna Lombardi, que também ofereceu um jantar para o mestre em sua casa. O filho dela, Kim, conheceu Prem Baba no Havaí. Assim como o guru, a atriz se diz "mais interessada em espiritualidade do que em religiosidade".

"Pode parecer a palavra mais batida, 'amor'. Mas não é. Temos que buscar novos valores, senão vamos cair num mundo muito árido. Prem Baba é muito sério. Ele é de verdade", afirma ela.

Bruna conta que um dos convidados, um cético inveterado, agradeceu a ela, com lágrimas nos olhos, a oportunidade de conhecer o guru. "Ele me disse que esse encontro com o Baba abriu nele portas que nunca tinham sido descobertas. Foi muito íntimo e bonito", conta.

"Atendo a todo tipo de pessoa, dos mais pobres aos mais ricos. Sinto que essas pessoas [os famosos] estão precisando de orientação como qualquer outro buscador", afirma o guru.

Para ele, o preconceito de parte da população com práticas orientais vem do desconhecimento. Enquanto almoçava em um restaurante, ele ouviu um garoto dizer à mãe que a professora havia proposto um momento de meditação. A resposta não poderia ter sido mais oposta ao que é pregado pelo mestre: "Mas que besteira! Não tem outra coisa para ensinar?".

"Meditação é o suprassumo do que pode ajudar uma criança a melhorar seu desempenho, a saúde, a concentração. Ninguém aprende nas escolas a lidar com a raiva e a frustração, só a reprimir."

Ana Maria Braga também conheceu o mestre, por meio da filha, Mariana. "Ela e minha nora falavam muito dele e quando vi que ele estava no Brasil, praticamente me convidei para ir conhecê-lo. Todo mundo fica mais calmo ao lado dele. As pessoas estão muito materialistas, espalhar essa mensagem é importante", diz a apresentadora, que veiculou um vídeo em seu programa em que Prem Baba estimula a prática do silêncio.

O guru, que costuma passar cinco meses do ano na Índia, prepara-se agora para uma temporada de práticas espirituais com buscadores, ou devotos, em Alto Paraíso (GO). Acordar às 5h, meditar, fazer ioga, cursos de autoconhecimento, dividir o quarto com um estranho e ter um contato direto com o mestre fazem parte do pacote. Ele também pode incluir um período de cerca de duas semanas em total silêncio e custa a partir de R$ 110 por dia.

Segundo a organização, o dinheiro arrecadado cobrirá os gastos com a hospedagem e reformas da pousada onde será realizado o evento.

"Se as pessoas soubessem quanto o silêncio pode ajudar! Um minuto por dia já faz diferença. Proponho um desafio: ficar um minuto em silêncio durante 21 dias. Se você sentir alguma mudança, estenda o tempo para 40 minutos. O silêncio evoca a transformação", diz o guru, para logo depois encerrar a entrevista.


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