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Maestro diz que jurado da APCA quis vender prêmio

Músico afirma ter recebido em 2010 garantia de vitória em troca de R$ 5.000

Associação chegou a suspender crítico, que nega acusações; prêmio teve nova irregularidade em 2011

KÁTIA LESSA
MATHEUS MAGENTA
DE SÃO PAULO

Um dos jurados da premiação anual da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) foi temporariamente suspenso pela entidade depois que um maestro afirmou que ele pedira R$ 5.000 em troca de um prêmio na categoria de música erudita.

A suspensão ocorreu em dezembro de 2010, durante a assembleia geral da APCA, evento em que os críticos escolhem, por meio de votação, os melhores do ano em categorias como cinema, literatura, música erudita e dança.

A medida foi tomada depois que o maestro Marlos Nobre, um dos principais compositores brasileiros de música erudita na atualidade, afirmou a membros da associação ter recebido uma proposta de suborno do crítico Luis Roberto Trench, que integrava a comissão julgadora naquele ano.

Segundo o relato do maestro à época, Trench lhe teria proposto, por telefone, o pagamento de R$ 5.000 em troca de um prêmio na categoria de música erudita, sendo R$ 2.000 adiantados e R$ 3.000 depois da premiação.

Procurado, Nobre não quis falar à Folha; por meio de sua mulher, Maria Luiza, disse que estava compondo e não poderia comentar o assunto.

Por conta da denúncia, a diretoria da APCA não permitiu que o crítico participasse da votação do prêmio de 2010, até que a situação fosse esclarecida. Naquele ano, Nobre, que diz ter rejeitado a proposta, não foi premiado em nenhuma categoria.

"Comprovada a denúncia, ele será afastado, sem sombra de dúvida. Mas o esclarecimento cabe aos envolvidos", disse Aguinaldo Cunha, presidente da entidade.

Sem a "prova cabal" de que o crítico cometeu a "infração", a diretoria da APCA afirmou que não poderia afastá-lo definitivamente da entidade. No ano passado, Trench voltou ao júri do prêmio.

Em protesto, os críticos João Luiz Sampaio ("O Estado de S. Paulo"), Irineu Perpetuo (colaborador da Folha) Leonardo Martinelli e Camila Frésca (colaboradores da revista "Concerto"), que haviam sido jurados em 2010, se recusaram a participar da votação da APCA em 2011.

"Com a falta de posicionamento em relação a essa denúncia, eu me senti desconfortável para votar", afirma Irineu Franco Perpetuo.

"As denúncias não foram sequer investigadas. Cobramos, mas a APCA não se manifestou. Eu me senti desrespeitada", diz Camila Frésca.

NOVA DENÚNCIA

Formou-se então um novo júri, com outros associados, e mais uma polêmica atingiu a premiação anual da categoria de música erudita.

Anunciado em dezembro passado, um dos sete prêmios da categoria foi cancelado após o jornal "O Estado de S. Paulo" revelar que Eduardo Escalante, um dos jurados, participou do projeto premiado "Panorama da Música Brasileria - Unicamp".

O edital da APCA que convoca os associados para a assembleia anual recomenda "a não premiação de parentes de críticos envolvidos na votação", mas não fala nada sobre votar em si próprio.

"Ele [Escalante], ao votar, considerou não haver incompatibilidade ou conflito de interesses, exatamente por não integrar a administração ou a coordenação do projeto, afirmou o presidente da associação. "Acreditamos que não houve má fé."

A diretoria da APCA, no entanto, decidiu cancelar a premiação do projeto "para deixar clara a lisura do prêmio" e não escolheu um vencedor substituto na categoria.

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