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Crítica - Artes visuais

Mostra parece só disfarçar projeto imobiliário

Contexto muda impressão sobre 'Made by... Feito por Brasileiros', que num primeiro olhar aparenta ser sensacional

NÃO É A TOA QUE NOMES ANTES ANUNCIADOS, COMO CILDO MEIRELES, NÃO ESTEJAM NA EXPOSIÇÃO. AFINAL, O CONTEXTO DE UMA MOSTRA VAI MUITO ALÉM DAS PAREDES ONDE ELA OCORRE

FABIO CYPRIANO CRÍTICO DA FOLHA

"Made by...Feito por Brasileiros" é desses projetos que, em um primeiro olhar, parecem sensacionais, mas com um olhar mais atento acabam merecendo desconfiança. Então, quanto mais se procura entender, mais estranho ele fica e, no final, pouco sobra da primeira impressão.

A ver: a exposição "Made by...Feito por Brasileiros" reúne cem artistas estrangeiros e brasileiros, que ocupam o antigo Hospital Umberto 1º, há 20 anos desocupado. A exceção, aliás, foi quando o Teatro da Vertigem encenou lá "O Livro de Jó", em 1995, um dos pontos altas da dramaturgia brasileira.

O lugar em si é fantástico: um complexo de edifícios com 27 mil m², que começou a ser construído em 1904 e terminou em 1973. Seu estado deteriorado em ruínas lembra "Asylum", a segunda temporada da série American Horror Story.

É preciso reconhecer que fica difícil a arte competir com um cenário desses, e as obras que se destacam são aquelas que reforçam esse caráter teatral. É o caso, por exemplo, das instalações de Artur Lescher, que faz chover em um dos ambientes, ou de Laura Vinci e José Miguel Wisnik, que provocam um redemoinho de papéis em outro.

Contudo, e aí começa o estranho, a mostra, com direção artística de Marc Pottier, se revela sem eixo curatorial, como se a ocupação em si fosse suficiente. Não é.

Pior, ela parece disfarçar o lançamento de um empreendimento imobiliário, a Cidade Matarazzo, que deve conter, entre outros projetos, um hotel de luxo. Junto, é lançado um livro ambicioso, com 1.200 páginas, que faz um mapeamento da cena de arte brasileira, e, não por acaso, já foi lançado na China e Índia, outros dos BRICs, acrônimo dos principais países de economia emergente. Ou seja, a arte parece aí o embrulho para um outro pacote.

Contudo, tudo isso até seria compreensível se o financiamento dessa festa viesse do empresário Alexandre Allard, o idealizador do projeto. No entanto, a mostra teve aprovados para captação nada menos que R$ 12,6 milhões via Lei Rouanet. Até agora, captou R$ 3,2 milhões.

Não é toa que nomes previamente anunciados, como Cildo Meireles, não estão na exposição. Afinal, o contexto de uma mostra vai muito além das paredes onde ela ocorre.


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