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Crítica - Drama

Adaptação de Fassbinder torna um clássico hit da banda A-ha

A PEÇA TRAZ UM DRAMA SEM LÁGRIMAS, COM PERSONAGENS DILACERADOS EM BUSCA DO AMOR, MAS QUE SORRIEM, BEBEM OU ESBRAVEJAM

GUSTAVO FIORATTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A canção "Crying in the Rain", do grupo norueguês A-ha, pode até ter arroubos de cafonice, com seus acordes graves de pianos e barulho de trovões ao fundo.

Mas "Gotas d'Água Sobre Pedras Escaldantes", montagem de Rafael Gomes para texto do alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), faz esse hit dos anos 1990 soar como um clássico em sua trilha sonora. E, melhor de tudo, sem ironias.

A peça traz um drama sem lágrimas, com personagens dilacerados em busca de amor, mas que sorriem, bebem ou esbravejam quase o tempo todo.

Como dizem os primeiros versos de "Crying in the Rain", em tradução literal para o português: "Jamais te deixarei perceber como meu coração partido está me machucando".

São quatro os personagens. O submisso Franz (Felipe Aidar) abandona a ingênua Ana (Nana Yazbek) para ficar com o centralizador Leopold (Luciano Chirolli). Meses se passam até a noite em que os três vão se encontrar, na presença também de Vera (Gilda Nomacce), que é apaixonada por Leopold.

O quadro configura um jogo de tentativas de dominação do qual ninguém vai sair vencedor, rumo ao desfecho trágico, em que o suicídio aparece como a tentativa derradeira de castigar o ser amado, golpeando-o na mais extrema das negações.

O espetáculo faz a exata combinação dos elementos propostos por Fassbinder, com atuações que se equilibram entre revelar e ocultar a dor de cada um.

O cenário tem estampas kitsch: azulejos e papéis de parede, taças de vinho coloridas, um sofá do tipo Casas Bahia. Cuidadoso, esse verniz que João Bosco e Aldir Blanc também já resumiram no verso "brincos iguais ao colar" fecha com precisão o sentido abissal de uma miséria humana penetrando a trivialidade da mobília.


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