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Livro analisa manifestações sobre fim da vida na Terra

Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro usam cultura pop, estudos científicos e textos religiosos em 'Há Mundo por Vir?'

LEÃO SERVA COLUNISTA DA FOLHA

É o fim do mundo. O tema do novo livro do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, escrito com Déborah Danowski, são as diversas manifestações da cultura humana atual que afirmam que está em extinção a vida na Terra "tal como conhecemos hoje" (uma expressão aberta, que os autores também discutem na obra).

Normalmente associado à pesquisa sobre culturas indígenas, que ele revolucionou com a criação do conceito de "perspectivismo", Viveiros, em "Há Mundo por Vir? Ensaio sobre os Medos e os Fins", também analisa produções culturais das sociedades dominantes ou desenvolvidas, tais como tratados científicos, filmes e literatura.

Assim começa o livro: "O fim do mundo é um tema aparentemente interminável --pelo menos, é claro, até que ele aconteça".

A análise equaliza as diferentes imaginações contemporâneas sobre a extinção do homem no mundo como expressões de um pensamento humano dominante. "Sem em qualquer momento afirmar qual interpretação é correta", o livro mostra que a convicção de que a vida humana sofrerá uma profunda ruptura é um "zeitgeist" ("espírito do tempo") deste início de século 21.

Assim, os autores descrevem inúmeros sinais dessa convicção generalizada. É o caso, por exemplo, dos estudos do departamento de Defesa dos EUA (Pentágono) sobre como o país deve enfrentar as ameaças que vão ocorrer caso se confirme o prognóstico de alta de 2°C na temperatura média do planeta nas próximas décadas.

Passam pelo crivo dos escritores também filmes apocalípticos como "Melancolia", de Lars von Trier, e "4:44 - O Fim do Mundo", de Abel Ferrara (ambos de 2011) e livros de ficção, como de Philip K. Dick (autor da história que deu origem ao filme "Blade Runner") e mitos indígenas, como o pensamento do xamã ianomâmi Davi Kopenawa em seu livro "A Queda do Céu" (lançamento previsto para 2015), entre outros.

Danowski explica que o livro foi escrito como uma reação aos ataques feitos a quem divulga informações sobre o agravamento das condições de vida na Terra: "Quando se diz o que está acontecendo, surge uma acusação de imobilismo ou catastrofismo. Ao falar contra a destruição de nossas florestas, somos acusados de servir à indústria americana. Então decidimos juntar tudo, filmes, livros, teses, mitos, que carregam esse espírito do tempo".

O lançamento do livro, realizado nesta semana no Rio, coincidiu com um colóquio internacional promovido pelos autores na cidade. "Os Mil Nomes de Gaia - do Antropoceno à Idade da Terra" reuniu cerca de 35 pensadores de 11 países, todos estudiosos de diversas áreas do conhecimento para discutir o conceito de "antropoceno": a ideia de que passamos a viver uma nova era geológica, esta determinada pelo homem, que deixa de ser um agente biológico entre todos os outros para se tornar o agente transformador da geologia.

Viveiros de Castro destaca a importância do conceito: "Neste momento do mundo, em decorrência da ação humana, o clima muda mais rápido que o homem. Vamos poder assistir a mudanças no sistema climático ao longo de uma vida", diz.

Embora escrito por dois cientistas (marido e mulher, ela se dedica à filosofia e ele, à antropologia), acostumados aos códigos acadêmicos, o livro tem conteúdo acessível, por tratar de manifestações culturais disponíveis ao grande público e descritas com didatismo.


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