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O concreto pede água

Japonês Shigeru Ban abre seminário em SP que debaterá recursos hídricos e arquitetura sustentável

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Uma arquitetura que seja sustentável não costuma casar com noções de luxo e glamour. Mas desde que a crise econômica que se arrasta há seis anos tornou cafona a ostentação em projetos mirabolantes, a onda verde pegou.

Rendeu um Pritzker, o maior prêmio da arquitetura, ao japonês Shigeru Ban, conhecido por suas obras em papel, madeira e outros materiais renováveis, e fez até Brad Pitt bancar uma fundação para a construção sustentável.

Ban e dois dos arquitetos --Lars Krückeberg e Tim Duggan-- que trabalham na fundação Make It Right, de Pitt, participam nesta semana do seminário Arq.Futuro, em São Paulo, onde vão falar da gestão de recursos hídricos.

Em plena seca que castiga várias cidades brasileiras, o tema político desbancou questões mais formalistas, como a discussão sobre tendências na arquitetura, ao mesmo tempo em que se firma como uma tendência em si.

Quando Ban, que deve abrir o encontro, venceu o Pritzker em 2013, um sócio da arquiteta Zaha Hadid, também vencedora do prêmio e famosa por projetos extravagantes, tuitou inconformado que o "politicamente correto" estava dominando a área.

Mas não é bem assim. Se é fato que Ban tem um histórico de ceder desenhos para esforços humanitários, ajudando a criar abrigos temporários na Ruanda pós-guerra civil e na Nova Orleans devastada pelo furacão Katrina, ele também tem um pé na ostentação.

Seu projeto mais recente, o Museu de Arte de Aspen, inaugurado na meca do esqui americano em agosto, foi criticado pelo uso apenas decorativo de suas soluções estruturais recicláveis, como as vigas de papel reforçado, que ali não sustentam o prédio, mas servem de adorno.

Da mesma forma que sua filial do Pompidou em Metz, na França, também usa estratégias parecidas. Ou seja, o sustentável já virou fetiche e arrisca se esgotar como tendência em vez de se firmar como uma solução na arquitetura.

"Achamos de verdade que todos deveriam viver felizes em comunidades verdes, mas muita gente só quer sair abraçando árvores", diz Tim Duggan, da Make It Right. "Só que como isso não faz sentido para os banqueiros, procuramos fazer algo sustentável também do ponto de vista econômico."

Ele reconhece que ter Brad Pitt como dono e garoto propaganda da fundação ajuda a executar os projetos, que começaram pela revitalização de Nova Orleans. "O Brad empresta seu carisma e também o talão de cheques", diz.

Mas frisa que os projetos estão ancorados em estudos dos lugares onde trabalham, em especial o comportamento da água nessas cidades, do tratamento do esgoto à absorção da chuva pelo solo.

Fora do campo arquitetônico, o artista Caio Reisewitz lança durante o encontro com uma nova série fotográfica em que registra a crise de abastecimento da água em São Paulo, com imagens aéreas das represas que servem a cidade feitas nas últimas semanas.

Ele imprimiu as fotos com as cores invertidas, enfatizando os tons de vermelho nas represas esvaziadas. "Assumi o lado negativo das imagens, mas não faço isso para entrar no debate eleitoral. Essas questões sempre estiveram no meu trabalho", diz Reisewitz.


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