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Crítica - Contos

Textos vigorosos justificam publicação de mais Bukowski

Autor cuja obra não para de ser lançada mostra que escrita direta é arte

CLAUDIO WILLER ESPECIAL PARA A FOLHA

Em um de seus poemas, Charles Bukowski (1920-1994) declarou que costumava queimar a maior parte do que escrevia. Qual seria a extensão de sua obra se não fizesse isso? Infinita, posto que, ainda assim, sempre nos chega algo desse filão inesgotável.

Fênix encadernada, assombração literária, sucedem-se as edições póstumas e despedidas, desde "Pulp", de 1994. E assim ele nos proporciona novas versões dos mesmos enredos, em contos e crônicas, além dos poemas que, alinhavados, também poderiam ser contos e crônicas.

É o mestre das variações sobre o mesmo tema. Em cada novo livro, relatará mais uma briga de bar. Contará, reunindo observação e fabulação, como é a vida nos albergues, no trabalho em empregos degradantes, em delegacias e horrendos hospitais públicos.

Possíveis estatísticas bukowskianas: quantos terão sido seus relatos de bebedeiras? Seus apocalipses urbanos? Os relacionamentos desastrosos com mulheres estranhas? Quantas vezes escarneceu dos perdedores em corridas de cavalos? Dos inoportunos que vinham puxar conversa?

Ou produziu irados acertos de contas com críticos e editores? E quantas foram as evocações do pai boçal que o surrava? Suas exibições de virtuosismo no sarcasmo, na ironia cortante dirigida a literatos contemporâneos e, com especial carinho, aos saraus literários? Os relatos do êxtase ao ouvir Mahler, Mozart ou Haydn? As expressões de admiração por John Fante e mais uns poucos?

A legião dos apreciadores, paradoxal coletividade formada por adeptos de um individualista radical, receberá de braços abertos estas novas versões de seus ordálios, das manifestações de desprezo pela sociedade burguesa e do ceticismo extremo.

Cabe, em vista disso, confiar na espécie humana e acreditar que a circulação crescente do "Velho Buk" não se deva apenas ao desplante de começar um poema assim: "Esqueci que tinha uma consulta no dentista dia desses".

Mas que esteja diretamente relacionada a poemas como sua homenagem a Robinson Jeffers (1887-1962), tocante em sua simplicidade; e ao singelo lamento pelo incêndio da biblioteca na qual passara a juventude.

Trechos vigorosos, mostrando que escrever em linguagem direta é uma arte. Justificam a perpetuação da tribo.


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