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Documentarista roda ficção com presidiários no elenco

'Na Quebrada', de Fernando Grostein Andrade, será exibido hoje no Rio

Longa-metragem do diretor de 'Quebrando o Tabu' é inspirado em histórias de jovens da periferia de São Paulo

GUILHERME GENESTRETI DE SÃO PAULO

Para rodar "Na Quebrada" dentro de um presídio de Guarulhos, o diretor Fernando Grostein Andrade conta que teve de atrasar o almoço dos detentos em meia hora enquanto usava o pátio como locação. "Quando esse filme ficar pronto você vai mostrar pra gente?" "Palavra de honra", ele diz ter respondido.

Agora que a data de lançamento do filme nos cinemas (16/10) se avizinha, Andrade afirma que pretende fazer uma pré-estreia, ainda não confirmada, na cadeia que ele usou de cenário e de onde escalou 12 de seus atores.

"Eles não precisavam nem de texto, improvisavam sobre a vida deles", diz o educador Igor Rocha, que desde 2010 mantém o grupo teatral Do Lado de Cá, com presidiários da penitenciária Adriano Marrey.

Quando Andrade o procurou, o grupo estava formado: eram remanescentes dos cerca de 60 que se inscreveram no curso. "Tem muito preso machista. Como ator não tem sexo, eu pergunto na primeira aula se eles vão se dispor a dançar balé. Poucos ficam."

"Na Quebrada" é a primeira ficção do diretor de 33 anos, egresso dos documentários.

Em 2008, Andrade desnudou --literalmente-- o cantor Caetano Veloso no filme "Coração Vagabundo". Em "Quebrando o Tabu" (2011), levou o ex-presidente FHC para dentro dos "coffee shops", os pontos de venda de maconha regulamentados pelo governo holandês em Amsterdã.

"Uma coisa chata de documentário é que eu me mato para produzi-lo e na pré-estreia tem sempre alguém que me pergunta quando irei fazer um filme", brinca Andrade, 33. "Estava cansado de documentários e queria experimentar outras coisas."

No seu novo filme, ele adentra o universo de cinco jovens da periferia de São Paulo que tentam ascender na vida por meio da arte. A penitenciária em Guarulhos é um dos cenários do longa. Ali, são os próprios presidiários que encenam uma rebelião sangrenta.

"Na Quebrada" tem exibição neste sábado (4), às 19h, durante o Festival do Rio (Estação Rio, r. Voluntários da Pátria, 35; tel. 21-2226-1986).

Todas as histórias foram inspiradas em casos reais vividos pelos frequentadores do Instituto Criar, ONG criada pelo apresentador Luciano Huck, irmão do diretor, para dar treinamento em audiovisual a adolescentes pobres.

OLHAR DA QUEBRADA

Andrade diz que buscou fazer um filme que fugisse do ar de "propaganda institucional", apesar de o convite para rodar a produção ter partido da própria ONG. "Tanto é assim que o personagem principal é inspirado em alguém que o Criar não conseguiu transformar: um garoto que acabou preso", afirma.

Jorge Dias, filho do rapper Mano Brown na vida real, interpreta o tal garoto, jovem que herda a dívida do pai, presidiário, e entra no crime. O global Felipe Simas faz outro desses meninos, o sobrevivente de uma chacina na periferia, caso real vivido pelo editor de TV Paulo Eduardo, codiretor de "Na Quebrada".

"O Fernando me chamou porque precisava tornar verossímil o retrato daquele universo", afirma Eduardo. "Tinha que ser um olhar da quebrada para a quebrada."

Segundo Andrade, o novo filme funciona como continuação de "Quebrando o Tabu", longa que esmiúça as consequências da guerra ao tráfico de entorpecentes.

"Se a grande tese daquele documentário é que é impossível erradicar a oferta de drogas sem tratar a demanda, nesse, a ideia é que a arte previne a marginalização."


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