38ª Mostra de Cinema de SP
Festival exibe brasilidade de Murilo Salles
Cineasta, que despontou na direção de fotografia, tem ficção, documentário e conjunto de vídeos na programação
'O Fim e os Meios' trata da relação entre mídia e política; 'Aprendi a Jogar com Você' traz DJ que se vira por dinheiro
Murilo Salles se define como um Policarpo Quaresma. "Só que crítico", emenda o cineasta, referindo-se ao personagem nacionalista criado por Lima Barreto (1881-1922).
E é a brasilidade que conecta as três produções dirigidas por Salles em cartaz na 38ª Mostra de Cinema de São Paulo. "Já acordo pensando em Dilma e Aécio. É coisa da minha geração se debruçar sobre questões nacionais", afirma o diretor de 64 anos.
De brasileiro, o documentário "Aprendi a Jogar com Você" aborda a "viração". O filme acompanha as transações de Duda, DJ que se vira para produzir CDs e negociar cachês de shows em casas noturnas da periferia de Brasília.
"Me interessava essa cultura bem nossa de quem se arrisca sem ter garantia de nada e desses trambiques eikebatistianos'", conta Salles.
"Aprendi..." tem interferência mínima do diretor. "O documentário de que gosto é oposto à tradição brasileira da entrevista, como fazem o Coutinho e o João Moreira Salles. Só interfiro na edição."
O longa de ficção "O Fim e os Meios" também cavouca assuntos brasileiros, no caso, a cultura da corrupção. A trama traz um jovem casal --ele, publicitário; ela, jornalista-- que se envolve na campanha política de um senador.
"Corrupção é um tema já bem esgarçado. Não adiantava mais falar da gênese, mas de como as pessoas se acomodam a essa cultura", diz.
Salles explica que quis fazer um longa com "imagens que mexessem com o subconsciente do público", citando como exemplos cenas repletas de simbolismo no filme como a do casarão do político ou a do abraço entre uma mulher negra e um homem branco.
"É o tipo de filme que dificilmente daria certo lá fora", diz o cineasta, que despontou na direção de fotografia de obras como "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976) antes de comandar os próprios filmes, caso de "Nunca Fomos Tão Felizes" (1984).
A mostra também exibe um programa de quatro vídeos curtos rodados por Salles sobre intervenções do artista visual Tunga. "Ele também carrega muita brasilidade", descreve o diretor carioca. "É barroco, é exuberante, é híbrido."