38ª Mostra de Cinema de SP
BR em PB
Mostra de cinema tem profusão de longas nacionais que captam o Brasil em preto e branco
Uma selva de pedras em centenas de tons de cinza é como São Paulo surge em "Obra", de Gregorio Graziosi. Até mesmo o idílico arquipélago de Fernando de Noronha (PE) aparece monocromático na sequência inicial de "Sangue Azul", de Lírio Ferreira.
Um Brasil em preto e branco está em três longas exibidos na 38ª Mostra de Cinema de São Paulo. "Sempre me fascinou a ideia de filmar o paraíso assim, ainda mais se é oceânico e vulcânico", diz Ferreira, referindo-se à profusão de cores da natureza.
Na trama de "Sangue Azul", Zolah (Daniel de Oliveira) retorna à ilha após ter passado a vida num circo. Em Noronha, ele revê a irmã, por quem nutre uma atração.
Os primeiros minutos --a armação da lona, o espetáculo-- transcorrem em preto e branco. A inspiração, diz Ferreira, veio de Sergei Eisenstein (1898-1948), pioneiro do cinema soviético, e do fotógrafo francês Pierre Verger (1902-1996), famoso pelos retratos do universo do candomblé.
Segundo Graziosi, o preto e branco é a "melhor forma de representar São Paulo."
"Os prédios vão se amontoando. Num momento não se vê mais nada que não seja concreto", diz o diretor paulista, que empregou uma estética inspirada nas imagens do fotógrafo Cristiano Mascaro, conhecido pelos retratos da arquitetura da cidade.
Arquitetura paulistana, aliás, é tema central do longa-metragem "Obra", todo em preto e branco. Nele, Irandhir Santos interpreta um arquiteto que descobre um cemitério clandestino num terreno que pertenceu à sua família.
"Em festivais lá fora até estranhavam que o filme fosse brasileiro por conta da estética", conta Graziosi.
A capital paulista também surge ora em preto e branco no curta "Domingo", de Karim Aïnouz. O diretor diz, contudo, que a opção foi mais para reforçar as cores do artista visual Olafur Eliasson, que inspira o filme, do que uma "estratégia estética pelo PB".
Aïnouz tem um palpite para a profusão do monocromático no cinema. "Com o digital, as imagens ficaram muito parecidas. Passaram a filmar tudo com mesmas câmeras e lentes. O preto e branco resulta em algo mais singular."