Álbum de Tom Zé reflete sobre a geração Y
Músico escreve ainda sobre política e religião em novo disco, 'Vira-lata na Via Láctea'
Tom Zé tem visto a vida com otimismo. O músico, aos 78, observa que a geração Y, a dos nascidos a partir dos anos 1980, levanta a ética como bandeira. Sobre a igreja católica, também vê motivo para comemorar: "Existe um papa que parece ter alma", diz à Folha.
Os dois temas --e outros tantos-- estão em "Vira-lata na Via Láctea", disco que o baiano lança nesta sexta (31), sábado (1º) e domingo (2).
É o primeiro álbum de Tom Zé em quase quatro décadas a não ter uma tese central --depois de ter estudado a tropicália, o samba e o pagode.
"Foi por acaso. Principalmente pela presença do Marcus Preto, que tem uma braçada muito ampla", comenta sobre o diretor artístico. A produção é de Daniel Maia.
Apesar da variedade de temas, Tom Zé vê como eixo do CD, além de "Geração Y" e "Mamon" (a sobre o papa Francisco), a canção "Esquerda, Grana e Direita", crítica ao fisiologismo político.
Fora os temas, os convidados --a quem chama de "galáxias formidáveis"-- também dão pluralidade ao disco.
Das novas gerações, participam Criolo ("Banca de Jornal"), Filarmônica de Pasárgada, Tatá Aeroplano, Tim Bernardes --da banda O Terno--, Trupe Chá de Boldo (todos em "Geração Y"), Kiko Dinucci ("Retrato na Praça da Sé" e "Pour Elis", nesta com Rodrigo Campos) e Silva ("Mamon").
"Às vezes, as pessoas só querem considerar a juventude a partir do momento em que ela arrebenta, mas, mesmo quando estão começando, os jovens têm um pigmento do que vai vir, e tenho muita afinidade com isso", diz.
De veteranos, tem a companhia de Caetano Veloso e Milton Nascimento. Com Milton, homenageia Elis Regina em "Pour Elis", de letra baseada em poema de Fernando Faro, último a dirigi-la.
Com Caetano, canta "A Pequena Suburbana". "É sobre quando a Terra era um planetinha de nada com perspectiva de ter vida. Os outros astros ficavam mortos de ciúme", ri.
A faixa, primeira parceira deles, marca uma aproximação após discussões em 2008. Na época, Caetano elogiou o álbum "Estudando a Bossa" e Tom Zé, de volta, respondeu que não podia "aceitar o colo". Segundo ele, Caetano e outros artistas da tropicália, o excluíam do movimento.
"Ser humano faz uma bobagem de vez em quando. É para avisar a Deus que a gente é ser humano", diz agora.