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Deixe o som entrar

Remontagem de "Hair", musical que gerou hits como "Aquarius" e "Let the Sunshine In", chega a São Paulo

Lenise Pinheiro/Folhapress
Cena do musical "Hair", dirigido por Charles Möeller
Cena do musical "Hair", dirigido por Charles Möeller

LUCAS NEVES
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Pegue um "indignado" de uma praça europeia ou um acampado do "Ocupe Wall Street". Cubra o sujeito de estampas indianas e mandalas psicodélicas, dê a ele uma peruca comprida e algumas doses de LSD e reescreva trechos de seu discurso, trocando brados contra o capital financeiro por ideais de paz e amor.

O hippie temporão que surgir daí pode se candidatar a uma vaga na tribo de "Hair", o musical que agitou a Broadway no fim dos anos 60 e cuja atualidade é posta à prova agora em remontagem de Charles Möeller e Claudio Botelho. A dupla é responsável pelas versões nacionais mais recentes de "A Noviça Rebelde" e "O Despertar da Primavera", entre outros.

"Hair" testemunha a transição para a idade adulta de um grupo de jovens que inclui um Casanova defensor do amor livre, um garoto que vê na ida ao Vietnã um dever patriótico e uma jovem engajada em causas sociais.

A produção original marcou época por causa da interação inédita com a plateia, da ode ao pacifismo e à libertação feminina e sexual, dos hits bicho-grilo "Aquarius" e "Let the Sunshine In" ("Deixe o Sol Entrar") e da cena de nu frontal coletivo.

Em 1979, o filme homônimo de Milos Forman deu o empurrão que faltava para que a trupe riponga ganhasse projeção mundial.

Na nova encenação, saem referências capitalistas datadas, menções detalhadas à Guerra do Vietnã e à história política americana e uma certa "idealização do socialismo como possibilidade de libertação", como aponta Möeller.

"Além disso, tiramos o ranço experimentalista. O texto original era ininteligível", diz ele, citando trechos que dão a impressão de um tatibitate concretista, com sílabas repetidas à exaustão.

Tampouco se nota a improvisação que pautava a movimentação cênica de Sônia Braga, Antônio Fagundes e colegas do elenco da primeira encenação brasileira, em 1969, sob a direção de Ademar Guerra. "A plateia de hoje não aguentaria isso, uma expressão corporal 100% livre", argumenta Möeller. "Naquela época, todo mundo, no palco e no público, estava com LSD na cabeça."

HIPPIE DE BUTIQUE

Ele repele a ideia de que a montagem atual seja povoada por hippies de butique, neocaretas: "Não estou fazendo um 'Hair' politicamente correto, para a classe alta. Busco um espetáculo que passe pelas sensações psicodélicas", descreve. "É um caleidoscópio do que seria 'deixar o sol entrar'. Não queria hippie sujo, sem dente, gritando contra a opressão."

Claudio Botelho, que adaptou as letras do musical para o português, diz que a maior dificuldade veio do fato de as canções "não contarem histórias, não fazerem o enredo avançar", só expressarem sentimentos momentâneos.

"Há onomatopeias e jogos de palavras por toda parte. O som da palavra muitas vezes é mais importante do que o significado", completa ele.

HAIR
QUANDO estreia amanhã; qui., às 21h, sex., às 21h30, sáb., às 18h e 21h30, e dom., às 18h; até 29/4
ONDE teatro Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, 6º andar, tel. 0/xx/11/3472-2226)
QUANTO de R$ 130 a R$ 160
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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