Exposição enaltece a gravura brasileira
Mostra em São Paulo expõe 201 trabalhos de artistas que desenvolveram técnica no país dos anos 1920 aos 1960
Lasar Segall, Oswaldo Goeldi e Lívio Abramo estão entre os 54 autores de obras instaladas na Estação Pinacoteca
O prédio de tijolinhos vermelhos que identifica a Estação Pinacoteca guarda muita história. Originalmente serviu como armazéns e escritórios da antiga estrada de ferro Sorocabana. Entre 1940 e 1983, foi sede do Departamento de Ordem Pública e Social de São Paulo, o temido Dops.
A partir deste sábado (15), o público poderá viajar nesse ambiente para conhecer uma outra história, que mescla a linguagem artística de traços com processos de reprodução e impressão, na exposição Gravura e Modernidade: A Gravura Brasileira dos Anos 1920 aos Anos 1960.
Um panorama em 201 trabalhos apresenta o embate entre a produção de gravuras figurativas e de abstração, tão peculiares na arte e técnica de impressão artesanal.
Nos primeiros anos da modernidade no Brasil, as técnicas de impressão exigiam superações diárias para se conseguir reproduções. O trabalho do gravador era desenvolvido com uma boa dose de experimentalismo aliado às técnicas disponíveis na época.
Na essência, a técnica da gravura surgiu para servir ao registro documental, dando suporte à reprodução de ilustrações ou cartazes. Exigiu muito trabalho e criatividade até sua massificação na sociedade pré-industrial.
Com o tempo, artistas se valeram das formas de gravura como mais uma plataforma plástica para produção de arte. Essa exposição apresenta 54 dos melhores artistas que desenvolveram variações dessa técnica no país.
RARIDADES
Ao sair do elevador no terceiro andar, o visitante se depara com raridades da gravura da década de 20. Trabalhos de Lasar Segall (1891-1957), Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Lívio Abramo (1903-1992) dão uma ideia do que está por vir.
Estão no "grande salão", como gosta de classificar o curador da mostra, Carlos Martins. Embora sem preocupação cronológica, outras raridades surpreendem na plasticidade e expressividade, evidenciando como a técnica experimentalista se intensifica com a gravura de cunho social na década de 50.
Há obras como as de Aldemir Martins (1922-2006), cearense considerado um dos melhores desenhistas do mundo na Bienal de Veneza em 1956.
Também estão expostas obras de Carlos Prado (1908-1992), pintor e gravador paulista que poucas vezes mostrou ao público seus desenhos, e de Fayga Ostrower (1920-2001), artista polonesa que chegou no Brasil quando tinha apenas 14 anos.
Entre várias premiações, ela conquistou o Grande Prêmio de Gravura da Bienal de São Paulo em 1957 e o Grande Prêmio Internacional da Bienal de Veneza de 1958.
A surpresa fica por conta da sala das ilustrações, espaço reservado para gravuras feitas para publicação em revistas e livros no período.
Ali estão expostos 70 trabalhos, entre eles oito originais de Oswaldo Goeldi que ilustram o romance "Mar Morto", de Jorge Amado. As imagens, impressas em 1967, representam o último trabalho do artista. Também são destaques as gravuras de Lívio Abramo, que ilustraram "Pelo Sertão", de Afonso Arinos.
O espaço também abriga, no mesmo andar, outras duas mostras que têm a gravura como fio condutor. "Imagem Gráfica" expõe obras feitas entre 1647 e 2006, em suportes como xilogravura, litogravura, gravura em metal e impressão digital.
No mesmo ambiente está a mostra "Estrutura em Movimento - A Gravura na Obra de Iberê Camargo (1914-1994)", homenagem ao centenário de nascimento do artista. São cerca de cem trabalhos, entre pinturas, desenhos, guaches e gravuras.