Crítica - Drama
Longa desconjuntado assume uma perspectiva colonialista
Existem pelo menos três filmes desconjuntados em "Uma Longa Viagem". No primeiro, um homem misantropo encontra em Colin Firth o estereótipo sob medida.
Noutro, Nicole Kidman aparece como a mulher enigmática que não ocupa um lugar mais que decorativo num mundo de homens. Uma terceira história recua ao passado para acertar contas e apaziguar o presente.
As memórias do militar britânico Eric Lomax dão o lastro de veracidade à superposição de comportamento disfuncional, romantismo fosco e moralismo de herói que o filme tenta unir. Lomax foi prisioneiro dos japoneses durante a Segunda Guerra. Torturado, o trauma da experiência explica sua transformação num tipo estranho.
Enquanto filma o presente, o diretor australiano Jonathan Teplitzky se escora nos recursos da dupla de atores para expressar a ideia de profundidade nos dramas de seus personagens.
Firth retoma seu tipo regular de homem sem qualidades, enquanto Kidman, com a face paralisada por botox, faz que atua com o olhar perdido.
"Uma Longa Viagem", contudo, só alcança algum vigor quando retorna ao passado e reconstitui a guerra na forma de filme de ação. Para juntar as pontas, o longa tem de assumir uma perspectiva colonialista em que os britânicos são vítimas e os japoneses não passam de cães ferozes.
Como o presente descartou como incorreta essa representação, "Uma Longa Viagem" gasta o resto do tempo se corrigindo, tentando convencer que perdoar é mais humano que querer se vingar.
Sem se esquecer de demonstrar que é o europeu civilizado que perdoa. Ao algoz, resta reconhecer essa inequívoca demonstração de superioridade.