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Livro sobre geração punk mira Proust em ritmo de TV

Romance da americana Jennifer Egan ganhou o prêmio Pulitzer em 2011

Obra caleidoscópica se inspira em francês e "Família Soprano" para narrar decadência de uma turma de roqueiros

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Quando, em abril do ano passado, a norte-americana Jennifer Egan, 49, ganhou o prêmio Pulitzer de ficção pelo romance "A Visita Cruel do Tempo", logo fez saber das suas influências para criar a obra: "Em Busca do Tempo Perdido", de Proust, e a série "Família Soprano".

Mas o que uma trama sobre os descaminhos da geração punk rock americana dos anos 70/80 -que sai agora no Brasil pela editora Intrínseca- tem a ver com um dos mais monumentais clássicos da literatura mundial e, ao mesmo tempo, com a premiada série de TV sobre a vida doméstica de mafiosos?

Ao defender, em entrevista à Folha, sua curiosa fundamentação teórica, Egan roça a presunção.

"Pensei em como seria um livro contemporâneo sobre os choques da passagem do tempo, como eu poderia fazer o que ele [Proust] fez, mas sem precisar de milhares de páginas, até porque desse jeito ele já fez."

A romancista conta que, lá pelos 20 anos, leu os dois primeiros [dos sete] volumes de "Em Busca...". Quase perto dos 40, voltou à obra, lendo-a calmamente e discutindo-a num grupo de amigos.

"Só aí, tendo vivido um pouco mais, consegui ver como é bom e pude apreciar melhor. Vi como é extraordinário e espantoso rever pessoas que não víamos havia muito tempo, como mudaram..."

Durante a feitura do romance premiado, ela assistia muito à "Família Soprano".

"Eu me perguntava por que aquilo mexia tanto comigo, quase como um livro. A narrativa é tão forte que eu nunca sabia onde a coisa estava indo, e muito polifônica, com várias tramas se desenrolando ao mesmo tempo."

Quis então conceber a obra como uma série televisiva.

(Deu certo, aliás: a HBO, que exibe "The Sopranos" nos EUA, comprou os direitos para levar o livro à TV.)

"A Visita Cruel do Tempo" entrelaça de modo caleidoscópico o deleite e decadência de um grupo de amigos de San Francisco, do fim dos 70 a algum ponto dos anos 2020, sem ordem cronológica.

É construído em torno do executivo e produtor musical Bennie Salazar, que um dia integrou a banda punk The Flaming Dildos, virou bacana da indústria fonográfica e hoje deplora o som digital.

O efeito devastador do tempo sobre os personagens justifica o título em português, que está longe do original: "A Visit from the Goon Squad".

A tradução literal seria incompreensível. "Goon" tanto pode significar "estúpido" como alguém contratado para machucar terceiros. "Goon squad" é uma cambada de bandidos e/ou de gaiatos, como alguns dos personagens.

"Meu título causou problemas em outros países, porque 'goon' não significa nada fora daqui [risos]. A maioria optou pela solução adotada no Brasil", diz a autora.

A VISITA CRUEL DO TEMPO

AUTORA Jennifer Egan

TRADUÇÃO Fernanda Abreu

EDITORA Intrínseca

QUANTO R$ 29 (336 págs.) e R$ 19,90 (livro eletrônico)

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