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Cinema em São Paulo está entre mais caros do mundo

Ingressos pesam mais no salário mínimo do que em Nova York e Tóquio

Para o cineasta Cacá Diegues, alto custo é um entrave para a formação de novas plateias no Brasil

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

Cinema pode ser a maior diversão. E também o maior baque para o bolso do espectador de São Paulo -mais do que em cidades com alto custo de vida, como Londres, Nova York, Tóquio e Paris.

Na capital paulista, o ingresso custa em média R$ 20 e abocanha 3,3% do salário mínimo (hoje, o piso estadual varia de R$ 600 a R$ 620).

Com cerca de R$ 16, vai-se ao cinema em Nova York -0,74% do mínimo local.

Os dados vêm de uma pesquisa realizada em outubro pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

Nos 11 locais comparados, só Brasília e Johannesburgo superam São Paulo. Na cidade sul-africana, a entrada custa menos, R$ 11,65, mas tira quase 8% do piso salarial.

Responsável pela pesquisa, o advogado Guilherme Varella chama atenção para outro dado. Para ir ao cinema, uma família paulistana com pai, mãe e filho desembolsa média de R$ 50 com duas entradas e uma meia-entrada.

Só que o brasileiro separa de 3% a 8% do orçamento mensal para lazer. Se a família se sustenta com o salário mínimo, a conta já não fecha.

Não surpreende, portanto, que mais de 50% dos brasileiros não tenham hábito de ir ao cinema, segundo Varella.

E não é só o preço do ingresso que "impossibilita o aumento do consumo cultural", diz o pesquisador. Pesam também valores como os do estacionamento e da bombonière, onde a pipoca grande pode sair por até R$ 12.

Para o cineasta Cacá Diegues, preços tão altos prejudicam a formação de plateia. "Nenhum casal vai pagar R$ 40 se pode ver TV de graça."

Diegues diz que o cinema ainda se apega a uma tendência dos anos 80, "quando o país quebrou e ficou todo mundo pobre". Naquela época, ele continua, o mercado de serviços preferia ir atrás dos poucos consumidores que ainda estavam em condição de pagar -e pagar bem.

COMPENSA?

O Idec avaliou locais em Brasília e em São Paulo. Pesquisadores avaliaram dez das 260 salas de cinema paulistanas, no centro expandido e nas zonas sul, leste, oeste e norte. A pesquisa comparou valores integrais do ingresso no sábado à noite em sala normal em dez outros países.

Quando montou a pesquisa, Varella preocupou-se em avaliar quais fatores encarecem o ingresso. "Queria constatar se, de fato, o serviço é caro porque é bom", afirma.

A maioria dos cinemas foi aprovada em quesitos como segurança, compra por internet e acessibilidade. "Sendo muito caro, o cinema vai ficar só para uma parcela da população. Mas o serviço, em geral, é satisfatório."

Varella aponta casos pontuais. Em seis dos dez cinemas, não é possível reservar assento na hora da compra.

Há, ainda, a taxa de conveniência que, às vezes, nada de conveniente traz. "Alguns cinemas cobram, mas você entra na fila para pegar o ingresso da mesma forma."

A limpeza dos locais costuma ser pior em cinemas de shopping, "provavelmente por haver mais pessoas".

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