Filme da brasileira Anna Muylaert é aplaudido de pé em Sundance
'Que Horas Ela Volta', novo longa de diretora paulista com Regina Casé, foi exibido no domingo em festival independente dos EUA
Com a plateia de 282 lugares lotada e aplausos de pé ao final da exibição, o filme brasileiro "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert ("Durval Discos"), fez sua estreia no Festival de Sundance na noite deste domingo (25).
A recepção calorosa se estendeu até o final da sessão, quando a Folha conversou com a diretora --interrompida diversas vezes por pedidos de fotos e elogios.
"A história é muito brasileira, mas todo mundo veio falar que o filme transcendeu a barreira da língua", afirmou.
Protagonizado pela babá nordestina Val (Regina Casé), o filme é recheado de expressões típicas da região, como "visse"e "oxe". Ficava claro quem era brasileiro na sala (cerca de 20% da plateia) pelos risos com piadas que passaram batidas nas legendas --como quando a babá chama um sanduíche de "tostec".
"Foi difícil de legendar", disse Muylaert. "Algumas partes são realmente intraduzíveis."
Segundo ela, no entanto, a preocupação do filme não era atingir o público externo.
"Queria fazer um filme que fosse importante para nós", contou. "Agora comecei a entender que esse tipo de situação não é específica de patrões e empregados, mas que outras pessoas se identificam."
Mesmo assim, Muylaert teve de explicar ao público algumas peculiaridades do país --também explicou que Regina é famosa e que tem se dedicado mais ao seu programa de TV (o "Esquenta!", da Globo) do que à atuação.
"Ela fez muito esforço para viver a personagem, a qual estuda há 20 anos enquanto trabalha misturando cultura popular e meios de massa."
O filme conta a história de Val, que deixa a filha Jéssica (Camila Márdila) no interior de Pernambuco para trabalhar como babá em SP. Após dez anos, Jéssica vai a São Paulo prestar vestibular, mas a presença da garota na casa dos patrões de Val escancara a divisão social que vigora ali.
A babá é quem presta mais atenção às regras. Enquanto tenta mostrar à filha os limites da relação com os chefes, Jéssica tem prazer em quebrar as barreiras invisíveis traçadas pela mãe com pequenos gestos, como tomar o sorvete do filho dos patrões.
Ao mexer com o que estava estabelecido, a moça se torna instrumento da transformação tanto da mãe como da família paulistana.