Filósofo encabeça mudanças na Funarte
Ministro Juca Ferreira anuncia hoje 'modernização' da instituição e carioca Francisco Bosco na presidência do órgão
Novo dirigente assume órgão de fomento em meio a queda orçamentária e críticas por atraso de editais
O filósofo e ensaísta carioca Francisco Bosco, 38, assumirá a presidência da Funarte, órgão de fomento às artes do Ministério da Cultura, em meio ao desprestígio da fundação e com o objetivo de revitalizá-la.
A nomeação e as mudanças que implementará para tentar modernizar o órgão serão anunciadas nesta sexta (30) pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, na sede da Funarte em São Paulo.
Filho do músico João Bosco, Francisco substitui Guti Fraga, ator e fundador do projeto Nós do Morro, nomeado pela então ministra da Cultura Marta Suplicy para gerir a instituição em 2014.
O período foi marcado por poucas ações e atraso de editais lançados pelo órgão, voltado a teatro, dança, circo, artes visuais e música.
O orçamento da instituição cai desde 2012, ano em que o investimento de R$ 161 milhões foi anunciado como recorde pela Funarte. O valor diminuiu para R$ 122 milhões no ano seguinte, redução de 25%. Em 2014, o orçamento foi de R$ 103 milhões, queda de 18% sobre o ano anterior.
"Acho que, dentro das possibilidades, fiz o que pude. Não se faz em um ano de eleições e Copa do Mundo transformações na politica cultural de um país", comentou Fraga, sobre sua gestão.
Procurado, Bosco não quis dar entrevista.
Em 2010, no fim de sua primeira gestão na pasta, Juca disse à Folha que havia "necessidade de uma reforma profunda na Funarte". Classificou a instituição como "desaparelhada, desestruturada e num nível primário de formulação das políticas".
Em 2008, o ator Celso Frateschi, presidente da Funarte nas gestões de Gilberto Gil e Juca, renunciou ao cargo após denúncia publicada pelo jornal "O Globo". Segundo o diário, Frateschi teria favorecido a companhia de teatro Ágora, fundada por ele. O ator negou a acusação e disse ser vítima de "armação".
Agora, na segunda vez à frente do ministério, Juca pretende criar uma comissão que reunirá representantes de diferentes áreas para criar uma "política nacional das artes".
PICADEIRO
Entre os maiores críticos do órgão estão representantes do circo, setor que só foi contemplado no ano passado por meio de um edital. O prêmio foi entregue com atraso.
"O circo foi prejudicado, porque em 2014 foi entregue o [edital] Carequinha de 2013, então em 2014 não aconteceu nada", diz Ana Lamenha, do colegiado setorial de circo, órgão consultivo do MinC.
Guti Fraga admite que há burocracia para o lançamento dos prêmios. "Os editais são muito burocráticos. Vêm de uma época antiga", defende. "Quando eu entrei já havia problemas, não tinha grana. Conseguimos aumentar o valor do edital", afirma.
O último prêmio deu R$ 10 milhões a 200 projetos circenses do país, ante R$ 6 milhões para 159 projetos investidos em 2012. Alguns prêmios ainda estavam sendo pagos até o início deste mês.
"A Funarte está sem força, sem dinheiro, sem credibilidade", afirma o proprietário de circo Marcio Stankowich.