Galerias brasileiras apostam na Europa para vencer crise interna
Presença na feira Arco deixa de ser só estratégica para mirar vendas
Enquanto os primeiros colecionadores chegavam à abertura VIP da Arco, uma das maiores feiras de arte da Europa que vai até o fim desta semana em Madri, a galerista Juliana Freire, da paulistana Emma Thomas, dava um panorama da situação atual.
"Vir para cá era só uma estratégia de marketing, algo para fazer contatos, mas sinto que agora todo mundo veio para vender", dizia ela. "O ano passado no Brasil foi um horror, agora é a hecatombe. Está muito punk."
Talvez pensando nisso, outras 12 galerias do país marcam presença na Arco neste ano, rompendo com uma fuga do evento, que entrou em decadência e vem se reerguendo com recuperação da economia espanhola, que mostra os primeiros sinais de vida após o baque de 2008.
Naquele ano, o Brasil havia sido o país homenageado, marcando seu recorde de presença na feira. Desde então, duas das maiores casas do país, a Luisa Strina e a Millan, não punham os pés em Madri, com receio da crise. Mas agora estão de volta.
"No Brasil, o ritmo do mercado já desacelerou", diz André Millan, que está na feira com obras de Lenora de Barros. "A tendência agora é compensar isso abrindo mais para o mercado externo."
A Arco também se esforça para garantir as vendas --parte da estratégia é voltar o foco para a América Latina depois de edições em que destacou a Finlândia e a Turquia, um fracasso de vendas.
Tendo como país de destaque a Colômbia, a atual menina dos olhos de especuladores do mercado da arte contemporânea no mundo todo, a Arco gastou quase R$ 5 milhões convidando colecionadores do país ao evento.
"Estão chegando aviões inteiros de Bogotá para comprar aqui", diz Paco de Blas, diretor da feira Summa, também em Madri. "É uma escolha política e de olho no mercado. A Espanha acredita, de fato, que chegou a hora de sua recuperação."
Na feira, isso se reflete na força dos artistas colombianos, em especial Bernardo Ortiz e Icaro Zorbar, aclamados pela crítica e representados por galerias do Brasil.
Entre outros destaques brasileiros, estão vídeos raros de Letícia Parente e desenhos de Lais Myrrha, na galeria Jaqueline Martins, uma instalação de Ivan Grilo, na Casa Triângulo, e poderosas apresentações individuais de Analivia Cordeiro e Anna Maria Maiolino, ambas levadas por galerias estrangeiras.