Dono de acervo do MAC Niterói não renova concessão
Museu foi criado para abrigar coleção de João Sattamini, que critica conservação das obras
"Prezados visitantes, informamos que o museu encontra-se temporariamente fechado à visitação por motivo de manutenção emergencial. O pátio e a loja do museu continuam abertos ao público. Lamentamos o inconveniente e agradecemos a compreensão. Direção."
O aviso, colocado no site do MAC (Museu de Arte Contemporânea) de Niterói, sinaliza os problemas que levaram o colecionador João Sattamini, 79, a não renovar seu contrato com a instituição --a informação foi divulgada na sexta (27) pelo colunista Ancelmo Gois, de "O Globo".
O MAC, museu projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012), situado em um morro em frente à baía de Guanabara, foi criado pela Prefeitura de Niterói em 1996 justamente para abrigar a coleção Sattamini, com cerca de 1.400 peças de artistas como Lygia Clark, Frans Krajcberg e Hélio Oiticica.
O contrato do empréstimo das obras ao museu foi renovado pela última vez em 2010 e venceu "há cerca de 60 ou 90 dias", segundo Sattamini.
Apontando a má conservação do museu --cujo problema mais recente foi a quebra do ar-condicionado, que levou ao fechamento ao público desde o último dia 13, segundo funcionários--, o colecionador decidiu não renovar o comodato.
"O contrato tem cláusulas a que eu devo me ajustar e a prefeitura também. Ela assumiu o compromisso de manter o museu bonito, limpo, e ele não está. Os tapetes estão rasgados, o ar-condicionado pifou", diz o colecionador.
João Sattamini afirma que sua decisão de não renovar foi uma maneira de pressionar o atual prefeito de Niterói --Rodrigo Neves (PT)-- a "cumprir o contrato".
"Eu quero uma manifestação da prefeitura de que aquilo é importante para Niterói. Eu tenho longa milhagem em negociação, mas eles não fazem nada, o que indica que não estão interessados em manter o que é deles. Eles têm que se mexer."
A Folha procurou a Prefeitura de Niterói e a direção do MAC, mas nenhum dos órgãos se manifestou até a conclusão desta edição.
Em agosto passado, Sattamini já havia se queixado publicamente das más condições das reservas técnicas do museu, que acomodam suas obras --elas estariam abarrotadas, mal acondicionadas e sem seguro.
À Folha, disse que o problema no ar-condicionado afeta também a climatização da reserva técnica, pondo em risco as obras. Ele isenta de responsabilidade os funcionários do MAC. "As museólogas são ótimas, de uma dedicação tremenda. O diretor, coitado, chega a bater de porta em porta, mas está exausto."
O colecionador afirmou que já recebeu convites de instituições interessadas em abrigar sua coleção, mas não as nomeou. Citou como modelo a Pinacoteca de São Paulo ("É um primor de administração") e afirmou que espera "vontade política" da prefeitura niteroiense.
"Não quero assinar um novo contrato e manter a mesma situação. Não tem condição de levar mais quatro anos nessa enrolação."