Artista colombiana acusa Dolce & Gabbana de plágio
Adriana Duque diz que grife italiana copiou fones com joias que ela criou
Marca não comentará o caso por enquanto; obra de Duque feita em 2011 apresentava acessórios cravejados com pérolas
Quando desfilaram em Milão no início desta semana com chiquérrimos fones de ouvido cravejados de pérolas, as modelos da Dolce & Gabbana talvez nem estivessem ouvindo música. Mas o barulho que eles causaram foi grande.
Uma artista plástica colombiana viu imagens da semana de moda italiana e ficou chocada com a semelhança entre os acessórios que construiu para uma série de fotografias e aqueles mostrados na passarela.
"Eles fizeram uma cópia quase idêntica dos fones que desenhei há quatro anos", diz Adriana Duque. "A semelhança é evidente demais, e isso me enche de tristeza, porque foge do meu controle e da esfera artística. Preciso que saibam que isso é meu trabalho e não uma coisa comercial."
TRANSPIRAÇÃO
Duque é representada por galerias em Madri, Bogotá e São Paulo, onde expõe na Zipper. Ela ficou conhecida nos últimos anos por seus retratos de crianças que lembram pinturas do século 16, sempre com luxuosos vestidos e acessórios com referências barrocas e contemporâneas, como as coroas que transformou em fones de ouvido cheios de joias.
"Ela se sentiu ofendida ao ver um dos principais elementos da iconografia dela na passarela da Dolce & Gabbana", diz Pedro Fida, advogado da artista, em São Paulo. "Ainda estamos avaliando o que fazer, mas sou a favor de uma conversa amistosa para chegar a um consenso entre as partes e não ficar apontando o dedo na cara de ninguém."
Mas Fabio Cimino, dono da Zipper, não tem dúvidas. "É claro que é um caso de plágio e vamos passar essa história a limpo", diz o galerista. "Isso despertou um interesse pela obra dela e gerou um buzz, mas é uma divulgação torta do trabalho. Não houve transpiração na inspiração deles."
Rodrigo Salinas, advogado especialista em propriedade intelectual, observou as séries fotográficas de Duque e imagens do desfile da marca italiana a pedido da reportagem.
"Existe uma semelhança grande entre os acessórios, mas só a ideia de um fone de ouvido decorado com joias não é passível de proteção legal", afirma. "A discussão é se houve mesmo um aproveitamento da ideia da artista e dos elementos de sua obra."
OUTRO LADO
Representantes da Dolce & Gabbana em São Paulo e em Milão, sede mundial do grupo, foram procurados pela Folha, mas disseram que não comentariam o caso por enquanto.