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Ciência romance

Experiência do autor como jornalista imprime à trama tom realista e narrativa sem rodeios

SÉRGIO DÁVILA
EDITOR-EXECUTIVO

Romances sobre e com jornalistas atraem escritores desde sempre, de "Bel Ami" (1885), de Guy de Maupassant, a "Furo!" (1938), de Evelyn Waugh, passando pela trilogia Millenium (2008-2009), de Stieg Larsson, entre outros títulos.

Não pelo romantismo heroico que normalmente se atribui à atividade jornalística, mas pelas possibilidades de enredo dos personagens que exercem a profissão, as quais são mais amplas que as de um contador, por exemplo, ou de um taxidermista.

Ajuda se o autor souber do que está falando ou, melhor ainda, for ou tiver sido ele próprio um jornalista. É o caso de Tom Rachman, de "Os Imperfeccionistas", que antes de estrear na literatura foi correspondente internacional da Associated Press em Roma e trabalhou como editor do "International Herald Tribune" em Paris.

O repórter de agência de notícias tem de aprender a escrever um texto sem rodeios e enrolação, que vá direto ao ponto mas capture o essencial, o que os americanos chamam de "just the facts, ma'am" (apenas os fatos, senhora). A característica está presente no livro, principalmente nas descrições dos lugares, que revelam o essencial, mas não enchem a paciência do leitor.

Já o editor do "International Herald Tribune" tende a viver uma vida de luxo deliciosamente decadente.

Fundado em Paris em 1887, o título que hoje é a versão mundial resumida do "New York Times" baseia o noticiário principal nas reportagens do próprio "NYT".

Generalizando, resta à equipe própria baseada na Europa as intrigas de menor importância. É esse ambiente a clara inspiração do jornal internacional que nunca é nominado em "Os Imperfeccionistas", em torno do qual se passa a trama.

Cada capítulo é escrito do ponto de vista de um dos envolvidos com o periódico: de Lloyd, o correspondente decadente que já passou "férias improvisadas no Brasil, com mulheres improvisadas", a Herman, o chefe de reportagem -que já está em seu memorando nº 18.238 de dicas de correção a uma incorrigível Redação-, mas também do proprietário e até de alguém como você, um leitor.

As narrativas se encerram em si mesmas, mas todas têm ligação, como reportagens e cadernos de um jornal. Juntas, formam um dos melhores livros dos últimos anos.

OS IMPERFECCIONISTAS
AUTOR Tom Rachman
EDITORA Record
TRADUÇÃO Flávia Carneiro Anderson
QUANTO R$ 42,90 (384 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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