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Livro celebra vida fugaz e brilhante de Lupe Cotrim

Biografia escrita por Leila Gouvêa segue percurso literário da poeta e filósofa

'Estrela Breve' se baseia em mais de 1.100 documentos doados ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP

FRANCESCA ANGIOLILLO
EDITORA-ADJUNTA DA “ILUSTRADA”

Brilhante, com uma luz que permanece após seu desaparecimento: qual uma estrela. Assim surge Lupe Cotrim Garaude (1933-1970) nas páginas da biografia que lhe dedica Leila V. B. Gouvêa.

"Estrela Breve", o livro, é uma "biografia literária", informa o subtítulo. Como tal, narra a trajetória da poeta e filósofa, interrompida pelo câncer que a matou antes dos 37 anos, do ponto de vista de sua formação e de sua obra.

Isso não impede que Leila Gouvêa trace um retrato de Lupe Cotrim como uma mulher vivaz, franca e bela.

"Bela, de uma beleza que às vezes achava que atrapalhava; mas uma intelectual seríssima", frisa Gouvêa, que foi aluna de Lupe Cotrim na Escola de Comunicações e Artes da USP em 1969, na última turma para quem a poeta lecionou a disciplina de estética e pensamento filosófico.

ARQUIVOS REUNIDOS

O trabalho de Leila Gouvêa -que antes já estudara a obra de Cecília Meireles- nasceu do estudo de mais de 1.100 documentos, doados pela família de Lupe ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

O amplo material inclui manuscritos, fotos, diários e cartas -seu interlocutor mais frequente era também um de seus poetas preferidos, Carlos Drummond de Andrade.

Organizado segundo recortes temáticos, e não de acordo com a cronologia, o volume não apenas é ilustrado com exemplos desses arquivos como se compõe deles. Escolha apropriada para narrar a biografia de alguém que não distinguia vida e obra.

Nascida Maria José Cotrim Garaude, Lupe manifestou desde cedo o desejo de ser escritora. Ensaiou outros gêneros, mas a poesia prevaleceu, tornando-se matéria dos sete livros que publicou em vida, entre 1956 e 1970.

Aos 30, após publicar sua quarta coletânea de versos, "Cânticos da Terra" (um bestiário ilustrado por Aldemir Martins), Lupe foi aprovada no curso de filosofia da USP.

Era uma ambição antiga e postergada -ao sair do colégio, optara pragmaticamente pela biblioteconomia.

Mas era também e sobretudo uma forma de afastar o lirismo que marcara o início de sua obra: Lupe queria escrever sobre e para o outro.

Além de subsídios para a guinada que almejava para sua poesia, a passagem pela USP, onde se formaria em 1967, trouxe o encontro com José Arthur Giannotti. Já então um respeitado professor, ele se tornaria seu marido.

Lupe passaria a ser uma poeta no mundo: "-fatal estar na terra/ e além dela", diz "Inédito Diálogo", de seu quinto livro, não por acaso chamado "O Poeta e o Mundo" (1964). Os exemplos finais de sua obra são a concretização da atitude que, diz Gouvêa, Lupe sempre exibiu.

"Ela se colocava muito." Para a estudiosa, a morte da poeta -"que viveu o fim de uma era efervescente e o início de uma fase tenebrosa"- foi "quase um símbolo" dos piores anos da ditadura.

ESTRELA BREVE
AUTORA Leila V. B. Gouvêa
EDITORA Imprensa Oficial
QUANTO R$ 60 (320 págs.)

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