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Retratista da 'New Yorker' imprime seu olhar a mostra em SP

Exposição no Museu da Imagem e do Som exibe seleção de Steve Pyke dentre a produção fotojornalística de 2011

Fotógrafo, que trabalha também para a 'Vanity Fair', retratou de Sophia Loren ao ex-ditador Augusto Pinochet

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Num fim de semana, antes ou depois de subir ao palco como vocalista de uma banda de indie rock, Steve Pyke pôs as mãos numa Rolleiflex. E nunca mais largou dela.

Foi com essa câmera que o britânico hoje radicado em Nova York começou a fotografar bandas como The Clash no começo dos anos 80.

Suas fotografias, clicadas com a lente muito próxima aos retratados, foram parar em revistas descoladas de cultura pop como a "NME".

Não demorou e Pyke, hoje retratista da "Vanity Fair" e da "New Yorker", trocou o som pela imagem.

É no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, que ele organiza agora uma mostra do melhor da produção fotojornalística do ano passado e seleciona os pontos altos do trabalho de alunos que lotaram workshops ministrados por ele na cidade.

Mesmo depois do "hype" e de pontos acumulados no currículo, há algo que não mudou desde o começo de sua carreira: a hoje surrada câmera Rolleiflex.

Fabricada em 1954, ela tem a mesma idade de Pyke.

"Essa câmera virou uma extensão do meu olho, da minha mão", contou ele à Folha num bar em São Paulo. "Com ela, fotografei genocidas, líderes religiosos e estrelas do rock e do cinema. É quase uma janela, um canal direto com o retratado."

Isso porque, com essa câmera que registra tudo em formato quadrado, o fotógrafo enquadra a imagem olhando direto para o filme, e não através de um visor, o que permite ficar cara a cara com quem posa para a lente.

"É uma postura quase submissa, não agressiva como com as outras câmeras", diz Pyke. "Isso muda a relação que tenho com as pessoas, provoca uma empatia."

Segundo ele, foi essa a magia ocorrida nos bastidores de registros icônicos como os de Sophia Loren, de Hugo Chávez, dos astronautas que viajaram à Lua e do ex-ditador chileno Augusto Pinochet (1915-2006).

"Pinochet foi muito difícil de fotografar, porque ele foi um genocida de certa forma, o que não deixa de fazer dele um sujeito interessante", avalia. "Mas um fotógrafo não deve fazer julgamentos morais diante de seu assunto."

Pyke diz gostar de desmontar a ideia de ícone ou de celebridade. "Muitas vezes a noção de celebridade não me interessa, porque é algo inventado, uma condição construída e meio falsa", diz ele. "Estou aberto às pessoas do mesmo jeito, sejam elas celebridades ou não."

Seguindo a mesma estratégia de manter seu comportamento diante de qualquer rosto que fosse, Walker Evans (1903-1975) fez retratos marcantes de anônimos no metrô de Nova York -gente pensando na vida, absorta em mundos paralelos.

Pyke fez o mesmo sem saber que Evans, hoje influência para ele, já tinha visto o metrô como espécie de divã coletivo e subterrâneo. "É um lugar fascinante para fotografar", diz ele. "Estão todos olhando para dentro, para os próprios pensamentos."

SONY WORLD PHOTOGRAPHY AWARDS
QUANDO ter. a sex., das 12h às 21h; sáb., dom. e feriados
ONDE Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, São Paulo)
QUANTO gratuito até 31/1

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