Antônio Abujamra, rebelde amoroso, morre aos 82 anos
Ator e diretor famoso por irreverência e inquietação dormia em sua casa em SP
Pioneiro ao empregar técnicas de Brecht no palco, fez fama na TV como bruxo Ravengar e por seu 'Provocações'
Um dos mais vigorosos e provocadores personagens da cena artística brasileira, o ator e diretor Antônio Abujamra morreu na madrugada desta terça (28), aos 82 anos, em sua casa em São Paulo.
Segundo a família, o artista morreu enquanto dormia, ou seja, só após autópsia poderá se esclarecer a causa da morte --amigos comentam que foi um infarto.
O velório seria realizado no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, do final da noite de ontem até as 13h desta quarta (29). O corpo será cremado no crematório de Vila Alpina.
Artistas, amigos e figuras públicas (entre as quais a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Cultura, Juca Ferreira) destacaram a importância de Abujamra para a cultura nacional e lembraram o misto de ternura e inquietação que era sua marca.
"Ele multiplicava os nossos pontos de vista não só sobre o trabalho, mas também sobre o mundo. Dizia: 'saia disso', desse mundo autocentrado. Mas era muito amoroso, sem perder a autoridade", disse a atriz Vera Holtz.
"Era um provocador. Acho que o espaço hoje vai estar uma turbulência. E sempre foi um homem de família, apesar de ser um doido varrido", afirmou o diretor Jorge Fernando, que dirigiu Abujamra em "Que Rei Sou Eu?" (1989), novela da Globo em que interpretou o bruxo Ravengar, seu papel mais popular.
Nascido em Ourinhos (SP) em 15/9/32, Abujamra cursou jornalismo e filosofia em Porto Alegre. Estudou na Europa no fim dos 50. Ao retornar, fixou-se em São Paulo, onde virou diretor em 1961 --foi um dos primeiros no país a adotar técnicas contemporâneas de dramaturgos como Bertolt Brecht e Roger Planchon.
Em 1965, teve sua montagem de "O Berço do Herói", de Dias Gomes, censurada pela ditadura. Naquela década, acumulou prêmios (como por "Roda Cor de Roda", de Leilah Assumpção) e temporadas de muito sucesso popular como o monólogo "Muro de Arrimo", em que dirigiu Antonio Fagundes.
Só assumiria a carreira de ator de forma tardia, aos 55.
Abu, como era conhecido entre amigos, foi um provocador nato e alçou a característica ao nome do programa de entrevistas que mantinha desde 2000 na TV Cultura.
Tornaram-se clássicos os textos literários e teatrais que lia ao longo do programa, bem como a pergunta com que encerrava as conversas: "O que é a vida?", inquiria, encarando o entrevistado.
Foi casado por mais de 50 anos com Cibélia, morta há dois anos, com quem teve os filhos Alexandre, 56, administrador, e André, 50, músico. Deixou dois netos.