Odiar Romero Britto é fácil
Representantes das artes tentam explicar por que o xodó do grande público é tão rejeitado por colegas
O pernambucano Romero Britto, 51, é um doce de pessoa. "Se eu fosse uma comida, seria um macaron de morango da Ladurée", diz por telefone, de Miami, emendando um "hmmm" ao lembrar da iguaria franqueada pela famosa confeitaria parisiense.
Já seus críticos são amargos. Comparam seu acervo multicolorido de quadros, esculturas e bugigangas a "fast-food" e recusam-se a chamá-lo de "artista".
Romero, que aos 20 anos pensou em ser advogado, não passa um dia sem ser julgado pelo Tribunal das Artes Plásticas. São artistas, galeristas, críticos e leiloeiros que se dividem para chegar ao veredicto: o ele faz é arte ou não é?
A Folha procurou 22 representantes do meio para entender o porquê de o xodó do grande público ser tão rejeitado entre os "seus". Metade não quis falar. "Queima o filme", disse o assistente de um importante galerista de SP.
Incinerar a reputação de Romero é fácil. Para Jones Bergamin, diretor da Bolsa de Arte, uma das maiores casas de leilão do país, "virou uma bola de neve. Ele é cada vez mais rico e vende mais e cada vez mais odiado. Se você entra na casa de um amigo seu e ele tem um Romero, pode acabar rotulado pelo mau gosto".
Seus defensores põem em xeque o poder da "alta cultura" que definiu que um Britto vale como pintura de rodapé.
"A ópera de Mozart era popular, e a 'intelligentsia' da época torcia o nariz", diz Gonçalo Ivo, considerado um dos maiores coloristas do Brasil. Para o carioca, que hoje mora em Paris, a repulsa prova que "o meio das artes plásticas é um dos mais escrotos".
Sr. Britto agradece o apoio, mas não usaria esse tipo de linguagem. Só quer "criar imagens de amor e esperança".