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Trama da Globo lembra reality político

Personagens de "O Brado Retumbante" evocam figuras do poder, como o presidente "sósia" de Aécio Neves

Minissérie que acaba hoje é "caricata", diz Andrea Matarazzo; para deputado do PSOL, a "gangsterização" é real

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

"O Brado Retumbante" chega hoje ao último capítulo com vocação de "Big Brother" da vida política.

Enquanto políticos acusam a minissérie global de ser caricata, espectadores se divertem comparando personagens da ficção com figuras de carne, osso e quilometragem nos bastidores do poder.

Veja Paulo Ventura (Domingos Montagner). Características desse presidente fictício podem provocar déjà-vu quanto a três tipos políticos.

1) Ele tem pinta de galã e, "bon-vivant", está sempre cercado de belas mulheres. Na internet, foi fulminante a associação com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) -que não esconde o desejo de concorrer à Presidência em 2014.

Via assessoria, Aécio disse que não assiste à série. Já em recente jantar com tucanos na casa de FHC, ele reconheceu semelhanças físicas com o mandatário da telinha.

2) Bom de voto, Ventura é "o cara" do povo, como Lula.

3) Avesso a alianças partidárias, lidera cruzada quixotesca contra corruptos. Na capital, o PSOL pleiteia esse papel. "É real, convivo com isso", diz o deputado da sigla Chico Alencar (RJ) sobre "a 'gangsterização' da política".

Mas a trama peca por "descontextualizar o ambiente socioeconômico", critica Alencar. Em suma: faz parecer que o mal do país se restringe a picuinhas pessoais, e não a uma estrutura corrompida.

São figuras "caricatas" que incomodam o secretário de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo. "Está um pouco ficção demais. Isso para nós, que conhecemos o governo."

A própria Globo frisa que "esta é uma obra de ficção [...] sem compromisso com a realidade". Mas algumas situações retratadas parecem ter saído direto dos noticiários.

A trama explorou escândalo no Ministério da Educação com livros didáticos que ensinam a "falar errado" e de viés ideológico (Tiradentes seria precursor dos sem-terra).

Em 2011, o MEC sofreu acusações parecidas. Na internet, a Globo foi acusada de promover campanha contra o ex-ministro Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo.

Recém-desligado da pasta, Haddad achou "divertida" a colocação, pois não vê "nenhum ponto de identificação", diz a assessoria do MEC.

Já José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, divertiu-se no Twitter com a "verossimilhança" na estreia, quando Ventura assume o poder após acidente com o titular.

"Helicóptero com presidente e vice, decolando à noite de plataforma da Petrobras. Só mesmo na imaginação [dos corroteiristas] Nelson Motta e Guilherme Fiúza."

Porta-voz da Presidência, Thomas Traumann brincou com o fato de Luiz Carlos Miele interpretar um político. "Não é quebra de decoro?"

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