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Criolo faz clipe para tornar Ilê mais pop

Lançamento de "Que Bloco É Esse?" acontece hoje em Salvador, com show do rapper paulista e do bloco baiano

Vídeo integra projeto que busca retomar a popularidade dos blocos afro, engolida pela indústria do axé

MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA)

O plano original era Criolo emprestar a voz a uma nova gravação de "Que Bloco É Esse?", maior hit do Ilê Aiyê.

Mas, animado com o convite, o rapper foi adiante e fez uma música inédita para o bloco afro. Começou a compor ainda no avião, dez minutos antes de aterrissar na Bahia. Terminou no hotel.

Com seu produtor musical, Daniel Ganjaman, e com os músicos baianos, o paulista entrou no estúdio de Carlinhos Brown, no Candeal, no dia seguinte. E só precisaram de mais dois dias para produzir o clipe -nas ruas do bairro da Liberdade e em terreiro de candomblé.

"Imaginei criar [para a letra] uma situação que antecedesse a canção deles, falando sobre o que fazem, relembrando as origens", diz Criolo. "É como chegar a um lugar pedindo licença. Como seu fosse um erê [criança] que veio aqui [na BA] aprender."

O vídeo vai ser lançado hoje à noite, em show na Bahia, como parte de um projeto da Petrobras que busca retomar o prestígio dos blocos afro.

"Queremos que atinjam um público novo e estamos usando a música pop para ajudar na reverberação", diz Pedro Tourinho, diretor do projeto. "Vamos criar uma série de outros conteúdos para povoar o mundo digital."

Além do clipe de Ilê e Criolo, estão programados documentários de cinco minutos para a internet, contando não apenas a história do Ilê, mas também de outros blocos.

De saída, vêm os do Muzenza (com participação da banda Nação Zumbi), do Malê Debalê (com Emicida) e do Cortejo Afro (com Preta Gil).

Na sequência, até o Carnaval, devem vir mais dez, entre os quais estão Okanbi, Os Negões, Bankoma e Olodum.

O material será colocado aos poucos, a partir de hoje, no site www.petrobras.com.br/queblocoeesse.

AXÉ

O ritmo dos tambores dos blocos afro está na raiz da música que é consumida hoje no Carnaval da Bahia, mas sua repercussão foi engolida pela indústria do axé.

"Daniela [Mercury] é a única cantora de axé que não tem medo de ensaio de bloco afro", diz Antonio Carlos Vovô, presidente do Ilê Aiyê. "Nenhuma outra canta [nosso repertório] de ouvido."

Criado em 1974, o Ilê é o primeiro bloco afro do Brasil.

"Antes do Ilê, negro só aparecia no Carnaval carregando alegoria", recorda Vovô. "O que a gente queria era resgatar nossa autoestima. Tínhamos influência do black power americano. "

Segundo ele, o bloco quase se chamou Poder Negro. Mas o Brasil vivia então em período de ditadura.

"Um militar da minha rua aconselhou, disse que essa ideia não daria muito certo. Mesmo assim, os seguranças mandavam as pessoas terem cuidado com a gente: 'Esses negrinhos são vermelhos!'."

O repórter MARCUS PRETO viajou a convite da Petrobras.

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