Crítica teatro/comédia
Drama autobiográfico seria melhor abordado em texto longo
A cada fala de "Dias de Felicidade", confirma-se o que diferencia Leilah Assumpção. Existe nela uma vivacidade constante, um conflito que se reanima sem parar, como uma máquina intermitente.
Como o inglês David Hare acaba de falar, na Flip, escrever diálogos, ao menos para alguns, é natural. E a volta de um talento natural como Leilah é sinal da vitalidade que sobrevive no teatro.
Ela é talvez o nome mais bem-sucedido, em público e em persistência da obra no palco, dentre os vários jovens da chamada Geração 69, projetados em 1969.
Dito isso, trata-se de uma peça bem curta, com um só ato e poucos atores --característica daquele período, por razões materiais e também por retratarem então relações pessoais mais diretas.
Mas o tema abordado agora, reportando em parte à experiência da autora com uma infecção no rosto, seguida de outra no cérebro, com reflexos por uma década, poderia ter sido desenvolvido melhor em texto mais extenso, que não se resumisse a uma relação com um ex-marido.
Registre-se que as peças de Leilah, é claro, podem ser vistas como uma sequência autobiográfica, uma comédia humana, desde "Fala Baixo, Senão Eu Grito", de 1969.
Em "Dias de Felicidade", os atores Walter Breda e Lavínia Pannunzio conseguem retratar companheirismo, lealdade, mas não vão muito além daí.
São intérpretes de idades e também trilhos muito diversos, que não se cruzam: ele mais cômico, farsesco até, ela dramática e, quando cômica, amarga, crítica. Lavínia vislumbra, em momentos, a mulher que esconde a tragédia sob a felicidade, mas Breda puxa a peça invariavelmente para a comédia.
A encenação acaba optando pela segunda, em parte porque é o que o texto indica, como redenção da realidade, mas que parece sufocá-la, mais que tudo.
DIAS DE FELICIDADE
QUANDO sexta e sábado, às 21h30; domingo, às 19h; até 27/9
ONDE Teatro Itália - av. Ipiranga, 344, tel. (11) 3255-1979
QUANTO R$ 70
AVALIAÇÃO bom