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Atores questionam preparadores de elenco do cinema

Profissão ganhou projeção a partir do trabalho de Fátima Toledo com atores de "Cidade de Deus", em 2002

Não adianta sair rastejando se isso não é necessário", diz ator que abandonou preparação do longa "2 Coelhos"

MATHEUS MAGENTA
ENVIADO ESPECIAL A TIRADENTES (MG)

Protagonista de "Augustas", filme exibido ontem na Mostra de Cinema de Tiradentes, o ator Mário Bortolotto disse ao diretor Francisco Cesar Filho que não participaria do projeto se o cineasta empregasse um preparador de elenco. A resistência fez Cesar Filho desistir da ideia.

Ao longo dos debates que integram o festival, a figura do preparador de elenco, profissional que geralmente trabalha com os atores nos ensaios para construir personagens ou linhas de atuação, recebeu diversas críticas.

"Dá para contar nos dedos da mão os cineastas que sabem dirigir um ator no Brasil. Daí a demanda por preparadores de elenco", criticou o ator e diretor Selton Mello.

Homenageado dessa edição, cujo tema é "o ator em expansão", Selton afirmou que os intérpretes são "a alma do trabalho". Os diretores devem lidar com eles diretamente, "não com [o auxílio de] intermediários".

A figura do preparador ganhou projeção no país após o trabalho de Fátima Toledo com o elenco de "Cidade de Deus" (2002). Ela treina atores para filmes desde "Pixote, a Lei do Mais Fraco" (1981).

O ator Rodrigo Santoro tem a ajuda do preparador Sérgio Penna para pesquisar e construir praticamente todos os seus personagens. A dupla se formou em "Bicho de Sete Cabeças" (2001).

Com quase 30 longas no currículo, Penna disse à Folha que uma de suas funções é ajudar o ator a fugir da caricatura, orientá-lo na imersão no mundo do personagem. "Não acho que isso signifique que me delegam a direção do elenco."

RASTEJAR É PRECISO

Ainda em Tiradentes, o ator Marat Descartes disse que abandonou a preparação feita por Toledo para o elenco de "2 Coelhos", em cartaz, porque não achou necessário passar pelo processo.

"Não adianta sair rastejando pelo chão se não é isso que é necessário. Lambendo o chão, se jogando, se socando, [dando] tapa na cara...", afirmou, em referência ao método usado por ela.

Para Afonso Poyart, diretor do longa, a preparação era necessária para que a interpretação resultasse o mais natural, espontânea possível. "Fátima trabalha buscando emoções. Ela sabe os mecanismos para atingir isso, e seu método funciona muito bem para esse tipo visceral de atuação", justificou.

Mas o que é dirigir um ator? "É você transformar, com o ator, a ideia de um personagem em alguém de carne e osso", disse Cesar Filho.

Para ele, o preparador entrega um ator quase pronto, deixando ao diretor margem de interferência pequena.

Por esse motivo, Bruno Barreto substituiu Toledo pelos irmãos Ricardo e Rogério Blat na preparação do elenco de "Última Parada 174".

"Não a estou criticando, só constatando. O maior prazer que tenho ao filmar é o de dirigir o ator. Ele tem de vir preparado, não pronto. Com a Fátima ele vem praticamente pronto", afirmou, em 2008.

O repórter viajou a convite do festival

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