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HQ reproduz vida no Irã depois dos protestos de 2009

Publicada antes na web, "O Paraíso de Zahra" ganha versão em papel; brasileiro produzirá animação

Criadores dizem que que afastamento do Brasil em relação a Ahmadinejad é bom para o povo iraniano

RAQUEL COZER
DE SÃO PAULO

Mehdi Alavi tinha 19 anos em junho de 2009, quando foi visto pela última vez.

Fã de rap iraniano e futebol, admirador de Zidane e Ronaldo, estava prestes a ingressar na faculdade na época em que desapareceu. Ele engrossava os protestos contra a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad no Irã.

Mehdi é um personagem fictício em torno do qual se constrói "O Paraíso de Zahra", mas sua história não poderia ser mais real -e atual.

A HQ, recém-lançada pela LeYa/Barba Negra, reproduziu em tempo real os acontecimentos no Irã após as eleições que o regime foi acusado de fraudar. Saiu primeiro na internet, sempre três vezes por semana, de fevereiro de 2010 a setembro de 2011.

A saga da mãe e do irmão que enfrentam mentiras e a burocracia iraniana na busca por Mehdi baseou-se em textos e vídeos que manifestantes e ONGs de direitos humanos publicaram na rede.

Entre a ficção e o jornalismo, virou documento de uma espécie de prelúdio da Primavera Árabe -a onda de protestos iniciada em dezembro de 2010 no Mediterrâneo.

"Quando vi as imagens da Tunísia [cujos protestos abriram a Primavera Árabe], aquilo me pareceu um replay de Teerã um ano e meio antes", diz o cartunista árabe Khalil à Folha, por telefone.

Ele e o roteirista iraniano Amir vivem em Berkeley, na Califórnia, mas assinam a HQ só com os prenomes para não pôr em risco familiares no Irã.

"A mim pareceu que os jovens tunisianos se inspiraram no estilo, nos gestos e nos refrões iranianos. E também no uso da internet", diz Khalil.

Mas, ao contrário da Tunísia e do Egito, o Irã não viu uma revolução. Dos 3 milhões de iranianos que foram às ruas, milhares foram presos ou espancados, e centenas morreram ou desapareceram.

ESTUPROS

Num dos trechos mais fortes da HQ, um rapaz conta como foi torturado e estuprado antes de sair da prisão de Kahrizak, para onde muitos manifestantes foram levados.

O epílogo do livro informa que mais de cem casos de estupro foram reportados ao governo iraniano -e rechaçados. O texto também destaca a importância de Paulo Coelho na divulgação, via internet, das mortes nos protestos.

Amir, que deixou Teerã aos 12 anos, em 1979, ano da Revolução Islâmica, diz que a meta da HQ é humanizar o povo iraniano ao resto do mundo -o texto foi traduzido para mais de dez idiomas.

"Os protestos ajudaram a mostrar a outros países que o povo não aprova a política de Ahmadinejad, mas muitos ainda demonizam o Irã como um todo", diz o roteirista.

"É importante mostrar que, para os iranianos que sabem das torturas no país, é triste ver o responsável por isso ser festejado no exterior, como aconteceu neste mês na América Latina e como acontecia quando Lula era presidente."

Amir diz que "é muito positivo" o afastamento do Brasil em relação ao Irã desde a posse de Dilma -há uma semana, o porta-voz de Ahmadinejad disse à Folha que Dilma "destruiu anos de bom relacionamento" entre os países.

ANIMAÇÃO

Em 2013, "O Paraíso de Zahra" deve ganhar uma terceira versão, pós-internet e papel. Assim como "Persépolis", de Marjane Satrapi, sobre a Revolução de 1979, dará origem a uma animação.

A Turbina Filmes, do brasileiro de ascendência iraniana Flavio Azm Rassekh, produzirá o longa em parceria com Amir e Khalil. "Estamos buscando o diretor. A princípio, será uma coprodução entre EUA, Brasil e França, com os trabalhos feito no Brasil", antecipa Rassekh à Folha.

O PARAÍSO DE ZAHRA
AUTORES: Amir e Khalil
TRADUÇÃO: Cassius Medauar
EDITORA: LeYa/ Barba Negra
QUANTO: R$ 39,90 (272 págs.)

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