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Cineastas divergem sobre relevância do filme nacional

Em debate, Eduardo Escorel afirmou que o cinema brasileiro é 'irrelevante'

O produtor Luiz Carlos Barreto discorda e diz que produção recente têm importância 'cultural e comercial'

MATHEUS MAGENTA
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

A atual produção do cinema brasileiro é "irrelevante". A opinião é do cineasta e crítico Eduardo Escorel, que montou filmes como "Santiago" (2007), de João Moreira Salles, e "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha.

A declaração foi feita durante um debate na 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes, na semana passada. Após o evento, Escorel afirmou à Folha que a irrelevância se dá porque "ninguém assiste ou se interessa por esses filmes".

No ano passado, as 98 estreias brasileiras renderam R$ 164 milhões nas bilheterias, o segundo melhor resultado dos últimos 20 anos.

Sete filmes nacionais superaram um milhão de espectadores. "Cilada.com", o campeão, fez o triplo disso. A cada ano, cresce a presença de filmes brasileiros em festivais internacionais, como os de Cannes, Veneza e Berlim.

Para Luiz Carlos Barreto, produtor de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), filme que levou dez milhões de pessoas aos cinemas, Escorel pode ter tido "uma momentânea privação de sentidos" ou "amargura pelo fato de não estar fazendo cinema".

"Só posso atribuir a isso. Porque é evidente que não é o mesmo cinema brasileiro dos anos 60 e 70. É outro cinema, mas de grande relevância cultural e comercial."

Para o cineasta Beto Brant ("O Invasor" e "Cão Sem Dono"), a declaração de Escorel é desprezível e saudosista.

Já o crítico e ensaísta José Carlos Avellar diz que a discussão não deve se focar nos resultados comerciais, já que ninguém reclama que o livro "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, não tenha vendido tanto quanto um livro de Paulo Coelho.

"Irrelevância não é uma coisa pejorativa, mas algo que fala sobre uma nota muito acentuada da produção brasileira que se relaciona mais com a forma do que com o enfrentamento das questões diretas do país", disse.

A diretora Eliane Caffé, de "Narradores de Javé", diz concordar em parte com Escorel porque os novos filmes brasileiros de ficção, salvo algumas exceções, parecem "estar fora do eixo principal daquilo que realmente está nos tomando" como dilemas.

Para Cao Hamburger, diretor de "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", o cinema brasileiro tem conseguido aumentar sua importância na cultura nacional.

"Filmes como 'Cidade de Deus' e 'Tropa de Elite' levaram a questão das favelas para o resto do país e para o exterior. E mesmo filmes menores, que tem repercutido muito, ajudam na formação de uma cultura audiovisual."

O cineasta Carlos Reichenbach, de "Garotas do ABC" (2004), diz que Escorel talvez tenha exagerado, mas mesmo assim é preciso que o país repense os modelos da produção atual, como filmes para públicos segmentados.

"O público-alvo talvez seja a salvação dessa produção média", afirmou. Reichenbach cita o exemplo de filmes para espíritas, surfistas ou estudantes que cumprem as demandas dos segmentos.

Para um dos expoentes do cinema brasileiro independente, Guto Parente, codiretor de "Estrada para Ythaca", a relevância não deve ser medida a partir de efeitos imediatos na sociedade.

"A reverberação desses filmes pode ser muito grande daqui a 20, 30 anos", disse.

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