Texto Anterior
|
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
Crítica Artes Plásticas Mostra enfoca ressurgimento do MAM com doação de acervo FABIO CYPRIANOCRÍTICO DA FOLHA A primeira obra diz tudo: "Tempo Suspenso de um Estado Provisório" (2011), de Marcelo Cidade, é uma réplica de um dos cavaletes de Lina Bo Bardi (1914-1992) -criados para exibir o acervo do Masp, mas guardados na reserva do museu-, que no trabalho do artista está marcada por tiros de revólver. Sarcasmo e trauma são facetas do trabalho de Cidade, que fala não só da violência urbana mas da violação que a obra de Bo Bardi sofre na atual disposição do Masp. Pois é da violência e do trauma na história do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) que trata a mostra "O Retorno da Coleção Tamagni", cuja visitação se abre com a obra de Cidade. A história é conhecida: Ciccillo Matarazzo criou o MAM (1948) e depois a Bienal de São Paulo (1950), mas desistiu do primeiro e entregou sua coleção para a USP, que criou o MAC (1963), deixando o MAM sem acervo. Pois a Coleção Tamagni é responsável pelo "ressurgimento" do MAM como museu, já que esse acervo foi recebido após a morte de Carlo Tamagni (1900-1966), colecionador e também conselheiro do espaço, e exibida na íntegra em 1968. Os curadores Felipe Chaimovich e Fernando Oliva enfrentaram um grande desafio: mostrar uma coleção sem grande importância (ela está longe, por exemplo, das obras-primas da Coleção Nemirovsky, em comodato na Pinacoteca), apesar de contar com nomes significativos como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral. O grande valor do acervo está no gesto da doação, que deu nova vida ao MAM. De certa forma, é justamente isso que diz "O Retorno da Coleção Tamagni" ao apresentar documentos e correspondências do período como se eles também fossem obras e ao exibir trabalhos contemporâneos, como o de Cidade, para criar novas leituras. E, finalmente, é inteligente o uso de "Máquina Curatorial", de Nicolás Guagnini, composta por paredes que se movem e permitem combinações distintas entre as obras. Apesar de ser um tanto apelativa, já que se trata de um jogo de cartas marcadas, no qual a real participação do espectador é limitada a empurrar paredes, é em sua perversidade que a "Máquina Curatorial" ajuda a entender o que diz a exposição: o que está na parede não importa muito desde que alguém esteja passando por ali. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |