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Passagem para formato sonoro trouxe prejuízo a atores e técnicas

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

"O Artista" foi inspirado na história do ator John Gilbert, astro do cinema mudo que teve um romance célebre com Greta Garbo. Ela conseguiu fazer a transição para o cinema falado; ele não.

Diz a lenda hollywoodiana que o chefão da MGM, Louis B. Mayer, com quem Gilbert havia brigado, mandou o técnico de som "afinar" a voz do ator, causando gargalhadas e deboche da plateia.

Gilbert entrou em decadência e bebeu até morrer, em 1936, aos 36 anos.

John Gilbert não foi o único. Astros como Douglas Fairbanks, Lillian Gish e Mary Pickford sofreram com o cinema sonoro. Outros atores foram boicotados pelos fortes sotaques estrangeiros (a polonesa Pola Negri, o alemão Emil Jannings).

Diretores consagrados, como Charles Chaplin e Buster Keaton, também tiveram suas carreiras prejudicadas pelo advento do som.

Chaplin ficou cinco anos sem filmar depois de "Luzes da Cidade" (1931).

Ele pensou em fazer "Tempos Modernos" (1936) como um filme totalmente sonoro, mas desistiu. O longa acabou sendo o último com o personagem Carlitos.

RETROCESSOS

Outra consequência da fase sonora foi, paradoxalmente, um retrocesso técnico e estilístico do cinema.

As câmeras tiveram de ser "blindadas" em gigantescas caixas à prova de som, para que seu barulho não fosse captado pelos microfones. Isso limitou os movimentos do equipamento.

A necessidade de colocar grandes microfones ocultos no cenário também ajudou a "engessar" as cenas.

Por isso, os primeiros longas sonoros são, na maioria, primariamente filmados, em comparação com os grandes títulos do cinema mudo.

King Vidor (1894-1982), de "Guerra e Paz", um dos maiores cineastas norte-americanos, deu um depoimento revelador sobre o assunto.

"No fim dos anos 20, eu e outros diretores, como Clarence Brown e Henry King, acreditávamos ter atingido uma forma artística que era única [...] as técnicas do cinema mudo eram universais", disse o cineasta.

"Levamos dez ou 15 anos para voltar ao estágio em que estávamos no auge do cinema mudo, com a mobilidade e expressionismo que a câmera silenciosa havia atingido", completou Vidor.

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