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Jazz de outro planeta

Precursora do afrofuturismo na música, Sun Ra Arkestra traz jazz cósmico e estética de vanguarda a SP

ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Aos 20 e poucos anos, o pianista Herman Poole Blount, americano nascido em 1914, no Alabama, teve uma experiência que chamou de "esotérica".

Blount teria sido "abduzido" e viajado até Saturno. Ali, alienígenas lhe aconselharam a deixar a universidade e se expressar por meio da música. Só assim o mundo o ouviria. Foi o que fez.

Abandonou a escola, formou uma orquestra, renunciou ao nome de batismo e adotou a alcunha que o tornaria mítico: Sun Ra -inspirado na divindade da mitologia egípcia, o deus do Sol, Rá.

Vestido como os antigos faraós, em plenos 1950, Sun Ra comandava espetáculos nos quais dezenas de músicos em transe experimentavam com todo o tipo de jazz, do swing ao bebop, em sua "arkestra".

Por essa sonoridade cósmica, ele se tornou precursor musical do afrofuturismo, uma estética em que artistas negros se projetam em contextos fantástico, em geral ligados à ficção científica, para transcender o preconceito racial de seu cotidiano.

"Em 1958, Sun Ra já dizia que o homem, em breve, iria à Lua, e ninguém acreditava", conta o saxofonista Marshall Allen, 87. "Hoje, as viagens espaciais são uma realidade, e devem existir várias formas de vida em outros planetas. Sinto que as vibrações sonoras podem nos levar até lá."

Allen, integrante da orquestra desde 1958, assumiu a direção do conjunto quando o líder morreu, em 1993. É ele o responsável pela Sun Ra Arkestra seguir propagando o afrofuturismo, que traz neste sábado a São Paulo durante o Nublu Jazz Festival, que acontece no Sesc Pompeia.

O afrofuturismo de Sun Ra se espalhou por gerações em diferentes formatos musicais.

George Clinton e as bandas Parliament-Funkadelic o revisitaram nos anos 70, numa versão cósmica para o funk.

A referência atual mais explicíta é a cantora Janelle Monáe, 26, que, em entrevista à Folha, citou-o como referência para seu disco, "The ArchAndroid" (2010).

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