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Desenhista retrata morte de jornalista russa

Italiano Igort lança livro sobre Anna Politkovskaia, assassinada em 2006 em caso que ainda segue sem solução

Para escrever a obra, autor viajou por dois anos pela Rússia, que ele diz ser hoje um país "amaldiçoado"

MARINA DARMAROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MOSCOU

Em 7 de outubro de 2006, durante a segunda guerra da Tchetchênia (1999-2009), Anna Politkovskaia, correspondente do jornal russo dissidente "Novaia Gazeta", foi assassinada, aos 48 anos, no elevador de seu prédio, em Moscou.

Um dia depois, o desenhista italiano Igort escrevia, da França: "Uma luz apagada com quatro balas". O post em seu blog continha apenas uma frase e a foto de Anna.

Durante quatro dias seguidos, o desenhista, nascido Igor Tuveri e criado numa casa "muito simpática à cultura russa", não pôde deixar de escrever sobre o evento.

O interesse pelo assunto o levou a uma viagem de dois anos pelo país, a partir de 2009, cujo fruto é a graphic novel "Les Cahiers Russes: La Guerre Oubliée du Caucase" (cadernos russos: a guerra esquecida do Cáucaso; editora Futuropolis; 20 euros -cerca de R$ 45-, em média, na Amazon.fr), lançada em janeiro na França.

"A Rússia é hoje um país amaldiçoado, onde a gente tem medo de falar sobre certos assuntos, finge não ver que alguns julgamentos, como o da morte de Politkovskaia, são grotescos", disse Igort à Folha.

Mais de cinco anos depois, o caso de Anna continua sem solução. Profundamente tocada pelos horrores da Tchetchênia, a jornalista não fazia apenas seu trabalho, e esse era um dos motivos pelos quais incomodava tanto, segundo sua amiga e tradutora Galia Ackerman, também retratada por Igort. "Ela era uma defensora dos direitos humanos", conta Galia.

Além de refazer o percurso de Anna no dia de sua morte, Igort reconta episódios de injustiças contra o povo caucasiano relatados por ela.

Um deles é o do massacre na escola de Beslan, quando terroristas fecharam uma escola na Ossétia do Norte, em 2004, exigindo a retirada das tropas russas da Tchetchênia. Mal coordenada pelas forças russas, a ação resultou em até 380 mortes.

"Cadernos Russos" não foi uma estreia. Casado com uma ucraniana e falando um pouco de russo, Igort já havia publicado, pela mesma coleção da editora Futuropolis, os "Cadernos Ucranianos", sobre a grande fome provocada por Stálin que matou 6 milhões no país nos anos 1930.

"Com o desenho você pode facilmente recriar qualquer coisa, é tudo por sua conta e de seu talento", diz.

Já publicado na Itália desde o ano passado e com uma tiragem inicial de 6 mil cópias na França, as expectativas de venda do novo livro são grandes. Segundo a porta-voz da Futuropolis, Elise Rouyer, isso se dá principalmente devido ao sucesso do "Cadernos Ucranianos", publicado em sete países europeus.

No formato de um diário de viagem, a história contada por Igort está repleta de episódios da "democratura" russa, como é chamado por cientistas políticos ocidentais o sistema do país -ou seja, uma ditadura disfarçada.

"Eu vi soldados mutilados em São Petersburgo, implorando por alguns rublos, e isso diz muito. A Rússia é um país em guerra, mas a gente prefere não ver isso. Se existe um legado do trabalho da Anna, esse é importantíssimo", arremata Igort.

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