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Filme escrito e dirigido pela atriz Angelina Jolie é elogiado em Berlim

Cenas de assassinatos de crianças e estupros marcam longa realista sobre guerra da Bósnia

Favorito ao Urso de Ouro, obra dos irmãos Taviani trata de grupo de teatro de uma prisão de segurança máxima

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

"Vai ser difícil continuar atuando em filmes sem significado", disse a atriz e agora diretora Angelina Jolie, anteontem, em Berlim, antes da exibição de seu filme "In the Land of Blood and Honey" (na terra de sangue e mel), numa sessão especial da Berlinale, fora de competição. Por "sem significado" entenda-se filmes de ação como "Mr. e Mrs. Smith", pelos quais ela ganha algumas dezenas de milhões de dólares.

Na entrevista coletiva mais concorrida do festival, Jolie falou sobre sua nova produção, que se passa durante a guerra da Bósnia e retrata um caso de amor um tanto doentio entre um oficial sérvio e uma prisioneira bósnia, falado em língua original.

Escrito pela própria Jolie, "In the land..." é um filme realista sobre o conflito, ocorrido entre 1992 e 1995, com cenas de assassinatos de crianças e estupros, nada comuns em Hollywood.

"Justamente por ser mãe de seis crianças eu não poderia esconder o que a guerra provoca. Filmes de guerra fáceis de assistir são constrangedores", disse. Acompanhada de oito atores do filme, nascidos na região, Jolie foi elogiada por todos e, aparentemente, com sinceridade.

"Durante os testes, eu não sabia de quem era o projeto. Quando me disseram ser de Angelina, achei que era piada, pois só poderia ter sido escrito por alguém que passou pela experiência da guerra", disse Boris Leer, que nasceu em Sarajevo e interpreta Tarik, um resistente bósnio.

FAVORITO

O sábado, contudo, trouxe o primeiro favorito ao Urso de Ouro: "Cesare Deve Morire" (César deve morrer), dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, sobre um grupo de teatro da prisão de segurança máxima de Rebibbia, em Roma, na Itália, terra dos diretores.

"Estamos em uma fase de nossas vidas em que nos interessa mostrar a realidade, e 'Julio César', de Shakespeare, uma história de honra, poder e traição, interpretada por prisioneiros foi uma combinação perfeita", disse Vittorio, 82, dois anos mais velho que seu irmão.

O filme é envolvente. Presos condenados por serem membros da Camorra (máfia italiana), por homicídio ou tráfico de drogas ensaiam o texto de Shakeaspeare dentro da prisão, onde os Taviani passaram seis meses rodando.

Há 10 anos, o diretor teatral Fabio Cavalli organiza espetáculos lá -e ele também participa do filme. "Nesse tempo, o teatro já recebeu mais de 20 mil espectadores e oito ex-presidiários tornaram-se atores profissionais", disse Cavalli.

Um deles, Salvatore Striano, voltou à prisão para poder participar do filme: "O texto de 500 anos atrás, sobre um fato de 2.000, me ajudou a entender o que acontece lá dentro", disse o ator.

O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a convite da Berlinale

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