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Crítica Drama

Cineasta maneja 3D com maestria em fábula sobre o cinema

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Se "A Invenção de Hugo Cabret" é, de longe, o mais interessante dos filmes de Martin Scorsese nos últimos anos, talvez neste século isso se deva menos ao uso adequado da técnica do que à maneira como o diretor se atirou nessa história.

A trajetória de Hugo começa bem clássica: ele é um órfão que, nos anos 1930, em Paris, vive de ajustar relógios de uma estação de trens e de furtos com os quais visa pôr em funcionamento um robô cujo restauro seu pai, ao morrer, deixou inacabado.

Para o pequeno Hugo, a vida é roubar, fugir e dedicar-se à obsessão de fazer funcionar o robô, em que, acredita, o pai teria deixado uma mensagem para ele.

Em diversas ocasiões, Scorsese falou de sua infância como uma época de grande dificuldade, vivida no bairro italiano de Nova York, um lugar onde, segundo ele, só se cresce gângster ou padre.

Mais recentemente tem insistido em outro aspecto: o amor ao cinema é que o livrou da marginalidade.

Pois "Hugo", o filme, é exatamente isso. Como a identificação do diretor com o tema é completa, não estranhamos que o filme mude quando Hugo, o personagem, leva a amiga Isabelle ao cinema.

Ir ao cinema será uma aventura, não só pela graça das imagens como por levá-los à descoberta de um segredo em que magia, memória, dor e esquecimento serão elementos essenciais.

Tudo os levará, em suma, ao encontro de Georges Méliès, grande pioneiro do cinema e inventor dos sonhos mais fantásticos da história.

Aí começa o que é decisivo no filme: se a identificação entre Scorsese e Hugo desempenha um papel central no filme, é preciso não desprezar a mágica do 3D.

Pois esse é também um filme sobre cinema, que trata de aproximar as primeiras ilusões das imagens em movimentos às mais recentes.

O 3D, afinal, é a magia do momento. E o diretor o maneja com maestria. Evita, quase sempre, o virtuosismo inútil, a agitação excessiva da câmera e as mudanças de plano em ritmo frenético (características de seu cinema mais recente).

Sua percepção do 3D, no entanto, parece mais completa ali, onde é mais essencial. Seu interesse vem, em grande medida, de que, ao produzir o mais real, produz também o mais fantástico.

É bem nessa direção que Scorsese encaminha seu filme ao nos colocar diante de uma fábula em que se encontram o antigo e o moderno, o sonho mais atual (o do 3D digital) e o mais antigo (a magia de Méliès). Poderá alguém alegar que há um tanto de piegas nesse encontro do velho com o novo, do ultrapassado com o moderno?

Pode ser. É preciso lembrar, no entanto, que "Hugo", como boa fábula, ignora (ou torna irrelevante) o correr do tempo, que, paradoxalmente, é o elemento mais presente em toda essa história.

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

DIREÇÃO Martin Scorsese
PRODUÇÃO EUA, 2011
COM Asa Butterfield, Ben Kingsley
ONDE nos cines Anália Franco UCI, Kinoplex Itaim e circuito
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo

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