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Prova de artista

Vida e obra do gravurista pernambucano Gilvan Samico, um dos principais nomes do Movimento Armorial, são registradas em livro

Foto Divulgação

MARCIO AQUILES
DE SÃO PAULO

A vida e a obra do artista Gilvan Samico, 83, um dos gravuristas mais importantes da história da arte contemporânea brasileira, podem ser conferidas pela primeira vez em livro, em uma edição de luxo publicada pela editora Bem-Te-Vi.

Autor de peças expostas no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, o pernambucano vive hoje afastado das badalações e fatuidades dos grandes centros urbanos.

Ao lado de sua mulher, Célida, a quem o livro é dedicado, mora e trabalha em um casarão do século 17, na cidade de Olinda (PE).

Samico foi o principal expoente do Movimento Armorial nas artes plásticas.

No prefácio do livro, Ariano Suassuna classifica o trabalho dele como decisivo no estabelecimento da poética do projeto, enfatizando o engrandecimento do grupo com sua presença.

A adesão à cena deu-se por meio de um convite feito por Ariano Suassuna, em 1971, ano em que Samico voltava de uma temporada de dois anos na Europa.

"Eu nem sabia que havia um movimento que tinha sido deflagrado pelo Ariano", diz o artista. "Ele [Suassuna] me disse: 'Eu inaugurei o Movimento Armorial e você faz parte dele'. Eu respondi: 'Então você me explica o que é, para eu saber do que eu faço parte'.", afirma.

IMAGÉTICA

No início da década de 1960, após ter sido aluno de grandes mestres como Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi, Samico procurou Ariano Suassuna em busca de uma opinião sobre aspectos visuais de seu trabalho.

"Minha gravura era muito noturna, com influência do expressionismo. Mas era um expressionismo lírico, sem o pessimismo que essa escola de arte utilizava", explica.

Por sugestão de Suassuna, começou então a usar elementos do romanceiro popular nordestino. Os profetas, pássaros de fogo, dragões, serpentes e outros animais encantados oriundos do cordel e dos folhetins passaram a permear amiúde a sua obra.

"Fiz o que podia para dar uma roupagem erudita a essa linguagem popular. O mito me interessa mais do que a possível realidade de uma lenda", diz Samico.

Se certo minimalismo gráfico salta aos olhos num primeiro contato com sua obra, uma segunda contemplação mais apurada revela complexas camadas de significação.

O crítico de arte Weydson Barros Leal, autor do texto e curador do livro, destaca as sutilezas do artista.

"Samico desenvolveu uma arquitetura que extrapola a cena pictórica, por meio da criação de planos justapostos que são áreas de tempo narrativos, e não apenas divisões plásticas", afirma.

Outra referência imagética importante em seu trabalho é a trilogia "Memória do Fogo", do escritor uruguaio Eduardo Galeano, utilizada pelo artista como fonte de símbolos e personagens.

Barros Leal destaca as transformações no processo criativo do gravurista.

"A gravura dele começa goeldiana, bastante escura, e vai clareando até encontrar sua própria linguagem. O mais impressionante é que o apuro e a exatidão de seu traço permanecem intactos."

ENGENHOSIDADE

Buscando aperfeiçoar questões técnicas, Samico também desenvolveu inovadores engenhos e ferramentas, como a goiva, instrumento que não permite que o fio da madeira enrole e cubra o desenho, enquanto a superfície da placa é cortada.

"Gosto de dedicar um tempo desenvolvendo novas ferramentas e técnicas que irão servir ao meu trabalho", conta Samico.

Segundo Barros Leal, essas ferramentas são importantes para o alto grau de precisão exigido por sua arte.

"Sua inteligência prática para desenhar ferramentas é universal. Ele é um exímio desenhista industrial com qualidades 'davincianas'[em referência ao pintor Leonardo da Vinci], dono de uma genialidade múltipla singular."

SAMICO

AUTOR Weydson Barros Leal
EDITORA Editora Bem-Te-Vi
QUANTO R$ 190 (196 págs.)

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