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HQ narra saga de um perdedor na folia

Humor negro e críticas ao Rio de Janeiro marcam a estreia do quadrinista carioca Daniel Og em novelas gráficas

Yuri é uma espécie de Brás Cubas morto-vivo, enfrentando dissabores e tentando morrer antes de o Carnaval acabar

RODRIGO LEVINO
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Um publicitário fracassado que comete suicídio e volta como zumbi durante o Carnaval no Rio de Janeiro.

É essa a tônica absurda de "Yuri - Quarta-Feira de Cinzas", estreia autoral do quadrinista carioca Daniel Og, 32.

A obra, que nasceu como uma história de fantasma, demorou cinco anos para ficar pronta. O enredo mudou enquanto era desenvolvido.

"A minha ideia era desconstruir esse Rio formatado, de samba e alegria. Percebi que um zumbi, que é uma criatura decadente como a cidade, seria o melhor personagem para isso", disse ele, que trabalha com animação de cinema e TV, em entrevista à Folha.

Em suma, "Yuri" conta a saga de um perdedor. Uma espécie de Brás Cubas morto-vivo, que vai se deparando com dissabores enquanto vaga pelo Rio atulhado de blocos carnavalescos.

Por dissabores, leia-se o estagiário que assumiu o lugar dele na agência, contratado por metade de seu salário; a ex-mulher que em menos de 24 horas se arranjou com um novo amante; além da mãe, carola, que sugere ganhar uns trocados com o suposto milagre que trouxe o filho de volta ao mundo.

Não sobra um motivo sequer para continuar existindo. Morrer mais uma vez se torna uma obsessão -e ele tem até a Quarta-Feira de Cinzas para conseguir.

Para tanto, Yuri contará com a ajuda de Andrei, um ladrão de carros homossexual, que ele conhece por acaso e se torna seu parceiro nas tentativas de suicídio e trapaças de toda sorte pela periferia carioca.

CIDADE "MARAVILHOSA"

À narrativa, que tem óbvia influência da obra do diretor George Romero, de "A Noite dos Mortos-Vivos" (1968), Og juntou humor cáustico e politicamente incorreto.

"Não é um quadrinho para ser lido em família", resume se divertindo.

De fato, "Yuri" não é para melindrosos. Palavrões e incorreções pipocam nos diálogos e o retrato que se pinta do Rio passa longe do ufanismo recorrente. Não há cartão-postal na narrativa do autor.

"O carioca tem dificuldade de ouvir críticas à cidade, ao modo como se vive aqui", sentencia o artista.

"Yuri é o cara que não samba, não vive jogando vôlei na praia, que não se ufana. Ele acha o Rio um arremedo. O que não quer dizer que não goste do lugar, mas que poderia ser melhor."

Já o traço, ao contrário das boutades hiperbólicas dos personagens, é minimalista e objetivo, sempre em preto e branco.

Og o moldou enquanto trabalhava como tatuador, no fim da adolescência.

"Não sou um profundo conhecedor de quadrinhos. A minha formação veio das bancas de revistas. Coisas acessíveis como 'Lobo Solitário', 'Akira', 'Asterix', as criações de Maurício de Sousa."

FICÇÃO CIENTÍFICA

Passada a estreia, Og tem cartas na manga: o argumento de duas histórias, uma delas de ficção científica.

A última, com o começo e o fim já desenhados.

Mas ele, cujo processo criativo é lento e não linear, foge dos prazos de lançamento como Yuri do passado.

YURI - QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Autor Daniel Og
Editora Conrad
Quanto R$ 36 (272 págs.)

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