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Fase subestimada de Marcos Valle volta embalada em caixa

São três álbuns e dois compactos lançados nos anos 1980, que antecederam um hiato de 12 anos sem gravar

Até ser redescoberto por músicos como Kassin e Domenico (Orquestra Imperial), repertório era renegado até pelo autor

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Até outro dia, a obra de Marcos Valle só valia até 1974 -ano em que lançou o último de seus dez álbuns pela gravadora Odeon (já reeditados na caixa "Valle Tudo").

Naquele período, o cantor, compositor e arranjador carioca surgido na corrente da bossa nova inventou um estilo próprio, em alquimia que também tinha rock, pop e black music como ingredientes.

Nos últimos 20 anos, desde que foi redescoberto por DJs na Inglaterra, Valle vem sendo idolatrado entre músicos por essa produção. Mas tudo o que fez na década seguinte vinha sendo ignorado -inclusive por ele próprio.

É justamente o período menosprezado do artista que a caixa "Marcos Valle - Anos 80", já nas lojas, reúne.

São apenas três LPs: "Marcos Valle" (1981), "Vontade de Rever Você" (1983) e "Tempo da Gente" (1986). E dois compactos: "O Sequestro" (1981) e "Bicicleta" (1984).

Valle vivia em Los Angeles havia seis anos quando recebeu o convite da Som Livre para voltar ao Brasil e gravar um disco de inéditas.

"Fui morar nos Estados Unidos em 1975 para buscar algum novo estímulo", diz. "A censura estava me chateando demais e comecei a perder a tranquilidade para me apresentar em shows."

Mas, em 1981, o clima político estava mais ameno.

A disco music ainda estava em alta e Valle seguiu por esse caminho. Para isso, convidou o maestro Lincoln Olivetti, especialista no gênero por aqui, para os arranjos.

Foi infalível. "Estrelar", a primeira faixa a estourar, ia ao encontro da "geração saúde", que começava a crescer. "Tem que correr/ Tem que suar/ Tem que malhar// Musculação/ Respiração/ Ar no pulmão", diziam os versos.

Mas, além de "Estrelar", a fase 80 de Valle renderia apenas mais um sucesso, também "saudável": "Bicicleta".

Depois de dois LPs, o cantor deixaria a Som Livre para, em 1986, lançar "Tempo de Gente" pela gravadora independente Arca (com arranjos de Eduardo Lages, maestro de Roberto Carlos). Depois desse, passaria por um hiato de 12 anos sem fazer discos.

E foi justamente por esse clima "de época" e pela sonoridade, vinculada demais aos anos 1980, que esses três álbuns foram "esquecidos".

E talvez nem o próprio Valle voltasse a eles, não fossem essas canções -sobretudo "Estrelar"- revividas por nomes da nova geração, como Kassin, Domenico e Moreno Veloso (Orquestra Imperial) e pelos mesmos DJs europeus que, poucos antes, redescobriram sua fase anterior.

"A comparação fica de lado e dá pra ver com mais clareza a qualidade daquelas músicas. Houve uma geração que me conheceu nesses discos e foi atrás do que eu já havia feito antes e faria depois. O tempo traz esse benefício", disse Valle.

MARCOS VALLE ANOS 80

ARTISTA Marcos Valle
LANÇAMENTO Discobertas
QUANTO R$ 50, em média (3 CDs)

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