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Drama familiar sul-coreano vira best-seller

Romance narra, pela voz de um pai e de seus filhos, sumiço da mãe numa estação de metrô de Seul, na Coreia do Sul

Culpa e remorso se juntam a uma reflexão sobre o progresso que o país atravessou nas últimas décadas

RODRIGO LEVINO
EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Aos 16 anos, quando ainda morava no campo, a sul-coreana Kyung-sook Shin, 49, teve de ir à capital Seul com a mãe. Uma longa e exaustiva viagem de trem.

"Aquilo era um sacrifício e a expressão de cansaço dela me tocou profundamente. Naquele momento, soube que um dia faria algo dedicado a ela", contou Shin em entrevista à Folha, de Nova York, onde vive atualmente.

As tais referências autobiográficas deram vida a um dos maiores sucessos editoriais dos últimos anos. "Por Favor, Cuide da Mamãe", lançado no Brasil nesta semana, vendeu 1,5 milhão de livros só na Coreia do Sul, quando foi publicado em 2009.

O livro narra, em três capítulos e um epílogo, a história de uma mãe idosa e camponesa que se perde no metrô quando vai à cidade grande visitar os filhos.

FAMÍLIA UNIVERSAL

Em 2010, quando o livro chegou aos Estados Unidos, entrou na lista dos mais vendidos do jornal "New York Times" e teve sete reimpressões feitas em apenas um mês.

Muito disso foi produto da recomendação feita pela apresentadora Oprah Winfrey a seu clube de leitura.

Ter vencido a barreira do mercado americano, quase hostil à entrada de autores estrangeiros, se deveu principalmente "ao padrão universal da família como microcélula da sociedade", diz Shin.

Para ela, os dramas, as perdas e os danos inerentes às relações familiares interessam aos leitores independentemente da língua em que seja escrito e do cenário em que se desenrolem.

No caso do seu romance de estreia, pai e filhos se põem a remoer o sumiço da mãe enquanto fazem o que está ao alcance para reencontrá-la. A reflexão mais dolorosa parte da filha.

A caçula, uma escritora consagrada que, de tão atarefada, adia indeterminadamente um simples telefonema para os pais, agora já não sabe como existir, imersa em culpa e remorso.

CHEGOU O PROGRESSO

Narrado por três vozes, o livro tem intervenções inquisitórias em primeira pessoa.

Isso lhe confere ainda mais gravidade em relação ao modo como cada um dos personagens de martiriza após o incidente.

É nessas pontuações que detalhes da vida da mãe vão brotando na narrativa.

A abnegação com que criou os filhos, para tê-los definitivamente longe anos depois; a resignação com as traições do marido e o trabalho de sol a sol na lavoura, que lhe tomou os últimos traços de juventude e o vigor.

Há nisso também uma reflexão sobre o processo de desenvolvimento que a Coreia do Sul atravessou nos últimos 60 anos.

"Existe uma tensão intermitente entre os que viveram o período de autoritarismo e da guerra com a Coreia do Norte, e os jovens, que vivem em democracia e têm outros referenciais", conta Shin.

Shin viveu todas as transformações a que se refere, inclusive educacional.

O país, que tem um dos sistemas escolares mais eficientes e disciplinados do mundo, formou gerações de profissionais capacitados e novos leitores.

POLÍTICA E LITERATURA

Na entrevista, Shin não deixou de se pronunciar sobre a tensão entre as Coreias do Norte e Sul.

"Nós vivemos reconhecidamente em melhores condições. É preciso que se abra diálogo com o norte e que nunca deixemos de receber os que fogem da fome e da ditadura", declarou.

Quando indagada sobre literatura brasileira, ela citou o escritor Jorge Amado (1912-2001) com entusiasmo, além de mencionar o onipresente Paulo Coelho, autor de "O Diário de um Mago". "Ele é um dos mais lidos no meu país".

POR FAVOR, CUIDE DA MAMÃE
AUTORA Kyung-sook Shin
EDITORA Intrínseca
TRADUÇÃO Flávia Rössler
QUANTO R$ 29,90 (240 págs.)

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