Índice geral Ilustrada
Ilustrada
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Análise

Profecia do austríaco Stefan Zweig parece enfim se realizar

Escritor, morto há 70 anos, em Petrópolis, escreveu "Brasil, País do Futuro"

MARCELO BACKES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A profecia de Stefan Zweig (1881-1942) no Brasil, um país do futuro, ironizada por tanto tempo, parece enfim se realizar, ainda que aos trancos e barrancos, 70 anos depois de sua morte.

Austríaco, filho de um industrial judeu, Zweig estudou filosofia sem empenho e alcançou o doutorado com tese sobre o crítico francês Hippolyte Taine (1828-1893).

Zweig publicou poesia desde os 16 anos e, aos 20, lançou seu primeiro volume de lírica. Rico, conheceu Índia, EUA e União Soviética. Pacifista radical, trocou cartas com Gorki e Freud, foi amigo de Rilke e Romain Rolland e dedicou um livro a Einstein.

Em 1934, depois de ter sua casa invadida pela polícia, percebeu o perigo do nazismo e fugiu para Londres, onde se tornou cidadão britânico, antes de buscar o Brasil, em 1940.

Zweig era um dos autores mais lidos da língua alemã. A secretária, Charlotte Altmann, sua segunda mulher, que já o acompanhara em suas viagens, o fez também na derradeira, o suicídio por envenenamento, em Petrópolis.

Na carta que deixou, Zweig lamenta a destruição de seu lar espiritual, a Europa, e estima que todos possam ver a aurora após a longa noite, dizendo que, por impaciência, ia embora antes.

Autor de biografias sobre Napoleão, Maria Antonieta e Dostoievski, na ficção Zweig fundamenta suas narrativas -como "O Jogador de Xadrez"- na psicologia dos personagens, em movimentos de tragédia e de resignação.

A atenção ao estilo o torna retórico demais às vezes.

"Brasil, País do Futuro", de 1941, é um retrato ufanista da terra idílica que o recebeu. Zweig avalia o potencial do país e o significado de "sair do mundo que se destrói" e estar no que "se desenvolve de maneira pacífica e fecunda", consciente de que o Brasil vivia sob o Estado Novo.

Se mostra ingênuo quando diz que a igualdade racial é visível, vê no pacifismo negociador dos brasileiros uma solução para o mundo e compreende o potencial da miscigenação depois de ter sido obrigado a deixar um país que pregava pureza racial.

Imagina que as favelas desapareçam, e lamenta o fato porque seus moradores são muito mais alegres do que qualquer operário europeu.

O quê de messiânico da obra, confirmado no título, parece refletir a derradeira esperança de um autor que, assim como seus personagens da ficção e da história, sucumbiu ante suas perdas ao buscar a felicidade.

MARCELO BACKES é escritor e tradutor, autor de "Estilhaços" (Record), entre outros.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.