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Análise Erland Josephson(1923-2012)

Ator-fetiche de Bergman viveu tipos reflexivos

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Diretor de muitas atrizes famosas, Ingmar Bergman (1918-2007) cultivou apenas dois atores, filme após filme.

Domingo, um estava na cerimônia do Oscar: era Max von Sydow. O outro, Erland Josephson, acabara de morrer num hospital de Estocolmo, Suécia, aos 88 anos.

Havia diferenças entre os dois. Von Sydow compôs com desenvoltura o tipo mais sombrio e se impôs na obra bergmaniana desde a década de 1950 até, basicamente, o final dos 1960.

Josephson, nascido em 15 de junho de 1923, representa um homem mais reflexivo do que sombrio.

Embora tenha feito um pequeno papel já num filme de 1946 ("Chove sobre Nosso Amor"), dedica-se basicamente ao teatro.

Só uma década depois de aparecer em "O Rosto" (1958), começa a se tornar um colaborador contínuo de Bergman, em filmes como "A Hora do Lobo" (1968), "A Paixão de Ana" (1969), "Gritos e Sussurros" (1972), "Cenas de um Casamento" (1973), "Face a Face" (1976), "Sonata de Outono" (1978), "Fanny & Alexander" (1982) e "Após o Ensaio" (1984).

Também atuou no último trabalho de Bergman, "Saraband", feito para a televisão em 2003, onde retoma o papel do Johan de "Cenas de um Casamento".

PAIXÃO PELO TEATRO

Fala-se com frequência de Josephson como um alter ego de Bergman, o que faz sentido, dada a frequência com que trabalha com o mestre sueco, sobretudo entre os anos 1970 e 1980.

No mais, ambos partilharam a paixão pelo teatro. Nos longos períodos em que não filmou, sobretudo entre os anos de 1958 a 1968, Josephson dedicou-se exclusivamente ao teatro.

Foi ele quem sucedeu ao cineasta, com quem tinha amizade desde a década de 1930, na direção do Teatro Real de Estocolmo, em 1965.

Se von Sydow, seis anos mais jovem que Josephson, aproveitou o prestígio bergmaniano para embarcar numa aventura hollywoodiana de papéis mais suaves (e que lhe renderam até hoje duas indicações ao Oscar), Josephson tampouco é propriamente um exemplo de fidelidade ao seu suposto alter ego.

Teve presença marcante em filmes de outros cineastas, sobretudo em "Nostalgia" (1983) e "O Sacrifício" (1986), do russo Andrei Tarkovski, embora não tenha se recusado a trabalhar em produções norte-americanas, como "A Insustentável Leveza do Ser" (1988), do diretor Philip Kaufman.

Além de ator e diretor teatral, Erland Josephson foi autor de contos, peças de teatro e roteiros para cinema e telefilmes, tendo colaborado inclusive com o próprio Ingmar Bergman na escrita de roteiros ("Para Não Falar de Todas Essas Mulheres", de 1964), além de assinar três filmes como diretor.

Ele sofria do mal de Parkinson e sua morte foi informada à imprensa por familiares.

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