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Cinema -Crítica Drama

"Drive" vai além da técnica: é cinema feito com "feeling"

Drama com Ryan Gosling avança sem reviravoltas ou cenas mirabolantes

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Agora que acabou a temporada de premiações pode começar a dos ótimos títulos exibidos em Cannes e em Veneza que só conseguem estrear depois que diminui o tsunami hollywoodiano.

Entre eles encontra-se "Drive", filmaço disfarçado de filme menor, filme B, exercício de gênero, homenagem ao cinema americano dos anos 1970 e 1980, ou qualquer outra etiqueta inútil.

A fineza da realização de Nicolas Winding Refn poderia passar despercebida não fosse o prêmio de melhor direção que o dinamarquês recebeu em Cannes, em 2011.

O destaque funciona para apresentá-lo ao público brasileiro, que ainda não o conhece, apesar da forte repercussão que, desde a estreia, em 1996, ele tem alcançado.

Filme de ação com pouquíssima ação, filme de amor quase sem beijos, "Drive" pode deixar exasperado o público que precisa de muito estímulo para engolir a pipoca.

Refn descreve o filme como uma meia-paródia de "Velozes e Furiosos", na qual músculos e correria incessante perdem espaço para a masculinidade sutil de um herói dominado por incertezas.

Seu protagonista nem nome tem, define-se somente pelo que sabe fazer: dirigir.

Ryan Gosling, indescritível no papel composto quase só de olhares, faz o cara que trabalha como mecânico de dia e guia para a bandidagem em fugas noturnas. Nas horas vagas, fica caído por Irene, o docinho Carey Mulligan.

Na passagem da precisão da máquina à tenuidade dos afetos, quando tem de ascender à humanidade, é o instante em que todo herói de verdade falha.

Na função de motorista, ele é perfeito, domina os espaços da cidade, controla as fugas e passa imperceptível pela polícia. De dia, vive a liberdade de ser um zé-ninguém. No máximo perambula dentro de sua jaqueta estilosa, já que não dá para ser Ryan Gosling impunemente (veja ao lado).

Seu drama não avança com cenas mirabolantes ou com reviravoltas reveladoras no meio da história. O pouco que acontece se passa nos meandros, sob a couraça máscula e opaca, dentro de uma interioridade contida que explode de tempos em tempos.

Como seu protagonista, Refn apenas dirige, limpa o material de tudo o que possa parecer supérfluo, investe na intensidade das cenas e as organiza segundo um método de necessidades.

Depois de tentar oito vezes e ainda não ter carteira de motorista, o realizador dinamarquês prova que a direção no cinema não se faz só com técnica, precisa ter "feeling".

DRIVE

DIREÇÃO Nicolas Winding Refn
PRODUÇÃO EUA, 2011
COM Ryan Gosling
ONDE Kinoplex Itaim, Playarte Bristol e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo

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