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Onde os fracos não têm vez João Emanuel Carneiro cria mocinha com jeito de anti-heroína para nova novela das 21h da Globo, "Avenida Brasil"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA MARCO AURÉLIO CANÔNICO DO RIO "Eu sempre quis torcer pelo bandido." É assim que João Emanuel Carneiro, autor de uma das vilãs de novela mais célebres dos últimos anos, a Flora (interpretada pela atriz Patrícia Pillar) de "A Favorita" (2008), explica como criou a trama de seu novo folhetim, "Avenida Brasil". A próxima novela das 21h da Globo, que estreia no dia 26, fará da "mocinha", Nina (Débora Falabella), uma anti-heroína. Ela terá uma infância sofrida, com direito a abandono em lixão, e se vingará da responsável pela penúria: a vilã Carminha (Adriana Esteves), sua madrasta. "Amo personagens ambivalentes, como o Raskólnikov [de 'Crime e Castigo'], do Dostoiévski", diz Carneiro, em uma das referências literárias que associa a sua nova obra. Em sua segunda novela no horário nobre, o autor retrata as camadas populares, mas nega uma busca pela audiência da "nova classe C". - Folha - "Avenida Brasil" vai se passar num cenário popular? João Emanuel Carneiro - Sim, criei o bairro Divino, um universo suburbano com um pouco de Nelson Rodrigues. Mas não tenho vontade de fazer uma novela sociológica sobre o Brasil atual. É um exercício de ficção. Como surgiu a trama? Surgiu porque sempre quis torcer pelo bandido. Quis inventar um personagem, a Nina, que fará coisas atrozes por uma causa justa, contra alguém realmente mau. É uma heroína que age como vilã. Toda novela que fiz é filha da anterior. "Avenida Brasil" surgiu da vontade de torcer pela Flora [vilã de "A Favorita"]. Gostava dela, mas não podia torcer. Qual é a história da protagonista da vez? É uma menina que levou um golpe em 1999. Ela mora com o pai [Tony Ramos] e a madrasta [Adriana Esteves]. Percebe que o pai vai ser roubado. Consegue avisá-lo, mas ele entra pelo cano e, depois disso, a madrasta a abandona no lixão. Essa menina volta 12 anos depois para trabalhar como doméstica na casa da ex-madrasta, que não a reconhece, e vai destruir aos poucos a vida da patroa. O que serviu de influência para essa trama? Leio muitos romances do século 19. Li Balzac [1799-1850] enquanto fazia a sinopse; ela tem muito do [romance] "Ilusões Perdidas". O lixão é muito Charles Dickens [1812-1870], a novela tem um quê de "Oliver Twist". Você vai se alimentando de tudo, de todos os filmes que já viu, tudo o que já viveu. São 6.600 cenas, é muita coisa. Essa é sua quarta novela. Já dá para identificar suas marcas? Minha característica é misturar drama e comédia. E tem a questão da família de eleição. Em "Da Cor do Pecado", o neto não era neto. Em "A Favorita", a mãe que criou não era mãe de sangue da Lara, e agora, nessa, tem a questão sanguínea da Carminha com o filho Jorginho [Cauã Reymond]. Sou neto único, não tenho irmãos nem filhos. A ideia de família me fascina. A trama terá elementos de seus trabalhos anteriores? Como todas que faço, essa novela tem um eixo de drama muito forte. "A Favorita" era 'noir', mais pesada. Essa é diferente, tem um tema central, que é a vingança justificada, mas tem arredores muito coloridos. Tem mil situações meio rodrigueanas que vão dar um tempero. É menos policial que "A Favorita", não tem arma, assassinato. Como você vê a dramaturgia brasileira hoje em dia? Está havendo uma tendência à massificação, como em tudo na cultura brasileira. O que a Globo tem de perseguir são novelas que sejam vistas por todos. Percebo uma tendência a apelar para o povão o tempo todo. Acho que o sonho do novelista brasileiro é fazer um "Roque Santeiro", uma "Vale Tudo". E qual é o lado bom de ser autor de novela? É um prazer muito forte imaginar que todos estão comentando algo que você pensou três semanas atrás. Essa onipotência é boa. A experiência de ter uma população assistindo àquilo que você pensou é quase lisérgica. Isso é uma cachaça forte. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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