Texto Anterior
|
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
Crítica romance Trama de Anne Rice peca pela simplificação Livro "De Amor e Maldade", em que a autora troca os vampiros pelos anjos, tem narrativa que se resolve rápido demais NELSON DE OLIVEIRAESPECIAL PARA A FOLHA Saíram os vampiros e as feiticeiras, entraram os anjos. Escolha perigosa A ficção de Anne Rice enfraqueceu um pouco, de 2003 para cá. Autora mundialmente conhecida pelas "Crônicas Vampirescas", iniciada com a "Entrevista com o Vampiro" (1976), Rice decidiu abandonar o lado negro para se dedicar ao lado luminoso. Saíram os vampiros e as feiticeiras, entraram os anjos e os serafins. Escolha perigosa. A literatura sempre se deu melhor flertando com as sombras. O mal é ficcionalmente mais interessante, porque reflete melhor a natureza humana. "De Amor e Maldade" é o segundo volume da série "As Canções do Serafim". O protagonista é Toby O'Dare, um ex-assassino de aluguel em busca de redenção. Após dez anos trabalhando para uma organização secreta, O'Dare é resgatado pelo serafim Malchiah e torna-se um viajante no tempo. Sua missão agora é salvar pessoas de outras épocas. Ele é enviado à Roma do século 16 para resolver um crime de envenenamento e salvar um médico judeu da condenação injusta. Produtores de alta literatura e produtores de literatura de gênero (policial, fantasia e ficção científica) quase nunca conversam. Quando conversam, nunca se entendem. Dá para imaginar J. M. Coetzee trocando figurinhas com Stephen King? Ou Joyce Carol Oates trocando receitas com Anne Rice? A alta literatura e a literatura de gênero formam duas elites diferentes, quase sempre antagônicas. Cada uma tem seu próprio critério de valor, suas próprias regras. Para não incorrer em xenofobia, é preciso avaliar a obra de Coetzee e Oates com o critério da alta literatura, e a de King e Rice com o critério da literatura de gênero. Isso posto, o problema maior com "De Amor e Maldade" não é a ingênua, mas suportável, apologia da doutrina da salvação. Bem ou mal, essa apologia se dissolve na mitologia judaico-cristã repaginada, nos diálogos envolventes, nos detalhes históricos e na condução segura da trama. Tendo em vista apenas o critério da literatura de gênero, o problema maior é a simplificação do enredo. A aventura renascentista resolve-se rápido demais. Como se a autora quisesse condensar num episódio curto, de TV, todo o material que merecia compor uma produção maior, para o cinema. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |